– Talvez?
Ela voltou a
sorrir, escarnecendo sutilmente, então arrematou:
– Agora você está...
Mas em breve não estará mais...
– Mas que porra de
enigma é esse, caralho?! Você... se julga tão misteriosa, né... No entanto...
– Não importa o que
você pensa em relação a mim. Você está errado. Pode ter certeza. A sua vida
depende da minha, e a minha, por outro lado, depende muito menos da sua que ambos
gostaríamos...
– Que negócio é esse,
Celha?! Para de falar por parábolas, porra! Se o Paglia vai mesmo ordenar que
eu vá...
– Amanhã, depois da
alvorada...
– Alvorada? Mas já
amanheceu há muito tempo...
– Amanhã... Ah,
Felipe... – Celha rolou para perto dele, perigosamente para alguém comprometido,
casado, e mesmo com uma ou duas testemunhas militares presentes, porém se
afastou assim que percebeu que o parceiro não reagiu à aproximação. – Você
gosta mesmo de mim?
Felipe perdeu a cor,
embora se mantivesse absolutamente passivo, propenso a tudo. Porém o silêncio
valia como uma confirmação de tudo aquilo que as bocas calaram.
Celha afastou-se
ainda mais, virando-se de costas para o amigo, como numa cena teatral, onde
ambos os atores seguem à risca a rubrica do autor, que diz: “Não se aproximem
nesta cena final”...
E para dar maior
suspense ainda:
– Nós precisamos
descansar, Felipe – volveu ela, expressão profundamente contraída. – Colocar
nossas idéias em ordem...
– Eu também acho
Celha...
– Mas você vai pra
Boa Vista sem falta...
Celha fechou os
olhos como morta; uma defunta que Felipe admirava muito mais do que percebia,
ou queria admitir.
Ele ficou ali, observando-a
intrigado, mastigando porquês, sem desconfiar que nunca mais a veria de novo...
E que sua profecia
se cumpriria à risca... (continua terça)
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