quinta-feira, 12 de abril de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE VIII - CAPÍTULO 6 (CONTINUAÇÃO)


– Talvez?

Ela voltou a sorrir, escarnecendo sutilmente, então arrematou:

– Agora você está... Mas em breve não estará mais...

– Mas que porra de enigma é esse, caralho?! Você... se julga tão misteriosa, né... No entanto...

– Não importa o que você pensa em relação a mim. Você está errado. Pode ter certeza. A sua vida depende da minha, e a minha, por outro lado, depende muito menos da sua que ambos gostaríamos...

– Que negócio é esse, Celha?! Para de falar por parábolas, porra! Se o Paglia vai mesmo ordenar que eu vá...

– Amanhã, depois da alvorada...

– Alvorada? Mas já amanheceu há muito tempo...

– Amanhã... Ah, Felipe... – Celha rolou para perto dele, perigosamente para alguém comprometido, casado, e mesmo com uma ou duas testemunhas militares presentes, porém se afastou assim que percebeu que o parceiro não reagiu à aproximação. – Você gosta mesmo de mim?

Felipe perdeu a cor, embora se mantivesse absolutamente passivo, propenso a tudo. Porém o silêncio valia como uma confirmação de tudo aquilo que as bocas calaram.

Celha afastou-se ainda mais, virando-se de costas para o amigo, como numa cena teatral, onde ambos os atores seguem à risca a rubrica do autor, que diz: “Não se aproximem nesta cena final”...

E para dar maior suspense ainda:

– Nós precisamos descansar, Felipe – volveu ela, expressão profundamente contraída. – Colocar nossas idéias em ordem...

– Eu também acho Celha...

– Mas você vai pra Boa Vista sem falta...

Celha fechou os olhos como morta; uma defunta que Felipe admirava muito mais do que percebia, ou queria admitir.

Ele ficou ali, observando-a intrigado, mastigando porquês, sem desconfiar que nunca mais a veria de novo...

E que sua profecia se cumpriria à risca... (continua terça)

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