terça-feira, 3 de abril de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE VIII - CAPÍTULO 5


Celha Regina bebia café naquela barraca que servira a uma celebridade, o Comandante Salas, algemado, tendo dois federais ao seu lado, para o caso de ele tentar alguma gracinha, porém mantinha a pose, orgulhoso, pensando nos seus nazistas anti-heróis.

Do lado de fora Paranhos procurava organizar aquela baderna, apagar algumas fogueiras que resistiam mesmo depois de encerrada a batalha, empilhar alguns corpos para conferência a posteriori, juntar todos os demais prisioneiros numa mesma barraca, reunir todas as provas que pudesse obter contra os traficantes...

Enfim...

Enquanto isso, de volta à barraca onde se tentava convencer Salas a falar, Felipe só queria água mesmo...

Mouzon e Moffato também continuavam por ali...

– Isto foi encontrado entre os pertences deste cão – disse Mouzon, jogando uma carteira de documentos no colo de Felipe.

Felipe segurou o copo d’água com o braço machucado, ainda que o mesmo estivesse imobilizado. Com a outra mão, a direita, pôs-se a analisar o documento sobre o qual seu amigo federal lhe chamara a atenção.

– Ele tem contato com a Miko, exportações & importações – disse Felipe meio atônito.

– Isto nos mostra quanto o tráfico está ramificado na nossa sociedade.

– Mas essa Miko não é a empresa do tal japonês, Tanaka Osumi?...

– Esse japonês é profundamente ligado à sociedade amazônica, Felipe – respondeu Celha no lugar de Mouzon.

– Como você sabe disso, Celha?

– Ora, eu leio jornais!

– A senhorita é realmente muito bem informada, “Tenente” – volveu Mouzon sorridente, mas com uma ironia sutil.

Era uma característica marcante do delegado de São Paulo. Sorria quando a situação denotava alguma tensão.

– Faz parte do meu trabalho, delegado – devolveu ela, quase sem intervalo.

Celha encarou-o com um misto de preocupação e admiração. Então era este o tal que Felipe falara com um entusiasmo que cheirava a devoção?

– Não é esta aquela sua “parceira” que você queria me apresentar, Felipe? – Provocou Mouzon.

– Ah, sim... – retrucou Felipe meio bobalhão. – Celha, este é o delegado Mouzon da polícia federal...

– Muito prazer, delegado – volveu Celha muito sarcástica também.

Mouzon se perguntava porque a amiga de Felipe usava aquele tom com ele...

– O senhor está investigando a ligação das mortes dos nossos colegas do 7º PEF com o tráfico de drogas, não é? – voltava a perguntar Celha, desta vez com naturalidade. – Já chegou a algum suspeito?

– Existem vários, senhorita – retrucou Mouzon sério, comedido, o que fez com que os olhos dela brilhassem de excitação, afinal, aquela atmosfera de suspense total acendia as imaginações mesmo dos menos privilegiados. – Quem sabe nós não devíamos conversar sobre isto?

– Quando o senhor quiser, delegado – devolveu ela com cordialidade, mas acrescentou, espetando: – Isto é, quando eu estiver disponível...

Moffato acompanhou aquele diálogo com uma curiosidade algo disfarçada, mas ele sabia que o delegado da polícia federal estava no caminho certo em termos da apuração do caso, embora Moffato soubesse também que o mesmo se mostrasse bastante espinhoso.

– Amadeo Castro – disse Felipe, lendo o nome do traficante no mesmo documento que Mouzon lhe dera. – Evidentemente este nome é falso...

– Provavelmente tudo que envolve o “Comandante Salas” deva ser falso – continuou Mouzon.

– Então... – insistiu Felipe se dirigindo ao traficante aprisionado. – Qual é o seu nome verdadeiro?

Salas, ou Castro, olhava através de seu interlocutor.

– Ele não vai falar – disse Moffato irônico. – Só em juízo. Esses caras tem proteção de tudo quanto é lado.

– Tem razão – concordou Celha bebericando mais café esfumaçante. – Ele já deve ter um advogado prontinho pra defendê-lo aqui no Brasil.

Salas dignou-se a fitar aquela arguta mulher belíssima, mas o seu sentimento em relação a ela parecia ser verdadeiro.

– Sim – tornou Mouzon satisfeito – Ele terá um advogado. Como manda o figurino. Mas, antes disso, nós vamos interrogá-lo em Boa Vista... – Mouzon permaneceu sério, trocando uma expressão indecifrável com seu colega da ABIN, ao passo que Salas/Castro brindou o delegado com um olhar preocupado. – Tem muita coisa que este senhor Castro, ou Salas, não importa, tem a nos esclarecer...

(SÁBADO CONTINUA. AGORA SERÃO DUAS POSTAGENS POR SEMANA. NÃO PERCAM!)

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