Andou
até o bebedouro apertando seu copinho de plástico, fazendo “crac-crac” para se
distrair, mas de maneira suave, para não danificar o produto, o que não
conseguiu, porém...
Jogou
fora o brinquedo...
Pegou outro em pé,
em frente ao bebedouro, e antes de encher o copo de novo, continuou com o
“crac-crac” irritante, ininterruptamente, divertindo-se sozinho, como uma
criança inquieta, e divertindo, por conseguinte, um seu colega que passava por ali
naquele exato instante...
Este fez um comentário
sui generis, mas ele não deu nenhuma importância, cessando o “crac-crac” eterno.
Encheu o copinho com água natural, que ele não
sabia se de fonte segura ou não, ainda mais depois da tempestade de ontem,
quando metade de Boa Vista ficara alagada com a chuva torrencial.
Sorveu metade do
conteúdo e parou pensativo.
Nisto, Moffato saiu
da sala onde eles interrogavam o tal do “Comandante Salas”, e disse para Mouzon:
– Ó... O cara é um
profissional, sem dúvida nenhuma. O nome que consta no documento da Miko é
falso, mas o documento é verdadeiro. Nos escritórios de Boa Vista e Manaus ele
é bem conhecido, mas os funcionários dizem que ele não pertence à firma
propriamente dita, é mais um contato do dono, o tal do Tanaka, com alguém de
fora; uma espécie de intermediário nos negócios de exportação.
Mouzon continuou
mudo; o “crac-crac” recomeçou, mas Moffato não deu importância ao ruído.
Mouzon entrou na
sala de interrogatório pela segunda vez...
Crac-crac, crac-crac, crac-crac...
O Comandante Salas
ergueu a vista para ele e esboçou um sorriso débil, significando talvez o
desprezo que sentia...
Mouzon esmigalhou o
copinho com uma das mãos...
Amadeo Castro ficou
sério, percebendo a natureza daquele gesto simbólico.
– Bem,
“Comandante”... – Mouzon pronunciou a última palavra com sotaque espanhol. – Tudo
bem que o senhor não queira colaborar conosco... – Castro permaneceu em
silêncio, desta vez sem olhar Mouzon diretamente. – Eu tenho todo o tempo do
mundo... Mas você não... Outra coisa: nós sabemos que você entende perfeitamente
o português, porque você “trabalha” aqui no Brasil direto... Eu até admito que
você conheça muito pouco o tal Tanaka Osumi, mas, por outro lado, deve ser bem
chegado a alguém que está em contato com o japonês o tempo todo... – Salas, ou
Castro, mantinha-se impassível, como se não estivesse entendendo o que Mouzon
falava. – Quem sabe alguém do ramo de plantação de arroz... – o palpite fora
certeiro, pois Salas/Castro tornou-se sério subitamente. – O senhor talvez seja
muito bem treinado, “Comandante Salas”. Eu me pergunto aonde foi feito este
treinamento, uma vez que não existem muitos lugares no mundo onde o senhor possa
ter adquirido tal bagagem, mas não pense que nós somos idiotas, tá?... Mais
cedo ou mais tarde nós vamos acabar descobrindo seus planos, ou, o que eu acho
mais adequado, os planos dos seus chefes...
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