terça-feira, 17 de abril de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IX - CAPÍTULO 1


       Andou até o bebedouro apertando seu copinho de plástico, fazendo “crac-crac” para se distrair, mas de maneira suave, para não danificar o produto, o que não conseguiu, porém...

       Jogou fora o brinquedo...

Pegou outro em pé, em frente ao bebedouro, e antes de encher o copo de novo, continuou com o “crac-crac” irritante, ininterruptamente, divertindo-se sozinho, como uma criança inquieta, e divertindo, por conseguinte, um seu colega que passava por ali naquele exato instante...

Este fez um comentário sui generis, mas ele não deu nenhuma importância, cessando o “crac-crac” eterno.

 Encheu o copinho com água natural, que ele não sabia se de fonte segura ou não, ainda mais depois da tempestade de ontem, quando metade de Boa Vista ficara alagada com a chuva torrencial.

Sorveu metade do conteúdo e parou pensativo.

Nisto, Moffato saiu da sala onde eles interrogavam o tal do “Comandante Salas”, e disse para Mouzon:

– Ó... O cara é um profissional, sem dúvida nenhuma. O nome que consta no documento da Miko é falso, mas o documento é verdadeiro. Nos escritórios de Boa Vista e Manaus ele é bem conhecido, mas os funcionários dizem que ele não pertence à firma propriamente dita, é mais um contato do dono, o tal do Tanaka, com alguém de fora; uma espécie de intermediário nos negócios de exportação.

Mouzon continuou mudo; o “crac-crac” recomeçou, mas Moffato não deu importância ao ruído.

Mouzon entrou na sala de interrogatório pela segunda vez...

Crac-crac, crac-crac, crac-crac...

O Comandante Salas ergueu a vista para ele e esboçou um sorriso débil, significando talvez o desprezo que sentia...

Mouzon esmigalhou o copinho com uma das mãos...

Amadeo Castro ficou sério, percebendo a natureza daquele gesto simbólico.

– Bem, “Comandante”... – Mouzon pronunciou a última palavra com sotaque espanhol. – Tudo bem que o senhor não queira colaborar conosco... – Castro permaneceu em silêncio, desta vez sem olhar Mouzon diretamente. – Eu tenho todo o tempo do mundo... Mas você não... Outra coisa: nós sabemos que você entende perfeitamente o português, porque você “trabalha” aqui no Brasil direto... Eu até admito que você conheça muito pouco o tal Tanaka Osumi, mas, por outro lado, deve ser bem chegado a alguém que está em contato com o japonês o tempo todo... – Salas, ou Castro, mantinha-se impassível, como se não estivesse entendendo o que Mouzon falava. – Quem sabe alguém do ramo de plantação de arroz... – o palpite fora certeiro, pois Salas/Castro tornou-se sério subitamente. – O senhor talvez seja muito bem treinado, “Comandante Salas”. Eu me pergunto aonde foi feito este treinamento, uma vez que não existem muitos lugares no mundo onde o senhor possa ter adquirido tal bagagem, mas não pense que nós somos idiotas, tá?... Mais cedo ou mais tarde nós vamos acabar descobrindo seus planos, ou, o que eu acho mais adequado, os planos dos seus chefes...

Nenhum comentário:

Postar um comentário