domingo, 24 de junho de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE X - CAPÍTULO 3


       – Já se sabe quem atacou o 7º PEF? – perguntou Ceddric.      

Barreiros sentou-se em sua cadeira, desconsolado.

– Só pode ter sido uma represália dos traficantes, bolas! – espumou ele.

– E o efetivo?... – insistiu Ceddric. – Sobrou alguém?

Barreiros limitou-se a olhar o chão, arrasado.

– Malditos bandidos! – esbravejou Ceddric, pois que o seu temperamento era muito mais explosivo do que o do General. – Será que isto nunca terá fim?!

Dispensável uma resposta.

Enquanto isso, ainda no corredor, o Major Pessanha tentou segurar Felipe.

– Espere, Tenente...

Felipe não ouvia nada, apenas ruídos indecifráveis...

– Primeiro-Tenente Corrientes – gritou Pessanha. – Felipe deteve-se roboticamente, virando-se em posição de sentido. – O senhor não terminou o seu relatório – volveu o Major, bem calmo, sobequilíbrio extremado.

– Desculpe-me, Senhor. Eu tenho de retornar a Uiramutã. Aconteceu alguma coisa...

– Como o senhor sabe que aconteceu alguma coisa grave em Uiramutã?

– Certas coisas não precisam de explicação, Major. São cristalinas por si só...

– Então eu não preciso explicar ao senhor que o senhor tem de voltar à sala do General Barreiros imediatamente...

Felipe deu meia-volta, como um autômato reprogramado, e seguiu de novo para a sala do General.

Chegando lá, o quadro apresentava-se mais tranqüilo. Ambos, Barreiros e Ceddric, estavam sentados aguardando...

Só havia mais uma poltrona no recinto...

– Sente-se, Tenente... – “pediu” Barreiros.

Pessanha tinha de ficar em pé.

– O senhor tem de demonstrar perante seus superiores que é mesmo um oficial tão competente quanto sua ficha o assegura... – continuou Barreiros. Felipe começou a chorar silenciosamente. – Recebi um comunicado de Uiramutã, Tenente... – Barreiros olhou significativamente para Pessanha. – O 7º PEF foi atacado por um helicóptero desconhecido... – Felipe não agüentou mais e pôs-se a chorar copiosamente. – Não há sobreviventes...

sábado, 16 de junho de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE X - CAPÍTULO 3


O General Barreiros recebeu a notícia com total ceticismo, dizendo mecanicamente:

– Quando isso?... – ouviu a resposta com uma expressão lívida. Todos os circunstantes acompanharam o seu estado de ânimo, mas o coração de Felipe, em especial, começou a acelerar demasiado...

Com toda a certeza ele intuíra o desastre...

– E os sobreviventes? – tornou Barreiros. O “obrigado” do general já era uma sentença de morte.

Ceddric poderia dispensar tranquilamente a pergunta a seguir:

– O que aconteceu, General?

– Uma tragédia, senhores...

O coração de Felipe ameaçou sair pela boca...

– O quartel do 7º PEF... – tentou dizer Berreiros, o que, obviamente, não conseguiu de uma vez só. – Foi atacado e destruído...

– Quem foi o responsável? – tornou Ceddric, meio aparvalhado.

Barreiros não respondeu.

Felipe já sabia de tudo...

Não precisava esperar pelo desfecho...

Saiu da sala sem nenhuma ordem em contrário...

Barreiros indicou a Pessanha:

– Não deixe este rapaz sozinho.

Pessanha foi atrás dele...

terça-feira, 12 de junho de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE X - CAPÍTULO 3


– Ele não está nada bem...

Felipe ouviu Ricardo Guimarães Ceddric falar isto, mas continuou sem reação...

O Major Pessanha também estava presente, mas este era comum não se pronunciar, mesmo com o caldeirão prestes a entornar, o que talvez ele nem imaginasse...

Aliás...

– Primeiro-Tenente Corrientes, o senhor se encontra em perfeitas condições físicas e mentais para fazer o seu relatório?...

Felipe parecia enxergar alguma coisa que não estava ali...

– O Coronel Paglia me garantiu que o senhor se encontrava em perfeitas condições mentais, embora eu não tenha entendido porque ele fez tanta questão que o senhor viesse fazer isto pessoalmente...

Felipe voltou a se conectar a esta realidade imbecil...

– O Senhor tem certeza que foi o Coronel Armando Paglia quem me enviou, Senhor?

– Se eu tenho certeza?... – Barreiros trocou um olhar com Ceddric e Pessanha. – Filho, você não quer descansar no seu alojamento e fazer isto mais tarde?

– Desculpe, Senhor... Fazer o quê?

– Este jovem não está em perfeitas condições... – comentou Pessanha quase indignado.

         Porém, antes que qualquer outra decisão fosse tomada, o telefone tocou na sala onde aqueles personagens tentavam travar um diálogo coerente...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE X - CAPÍTULO 3


       Muito o oprimia aquele discurso cifrado, embora ela pontuasse cada palavra com uma certeza quase matemática, o que calava fundo em sua alma obnubilada...

A certeza de que somos meros observadores passivos, sem podermos modificar uma realidade massacrante, a confirmação de uma impotência atávica angustiante, deixava-o fora de si.

Mas aquele “O que você tem para nos informar, Primeiro-Tenente Corrientes?” quebrou a cadeia natural de desdobramentos que poderia levá-lo a uma síncope...

Quando estava tête-à-tête com os superiores que o enviaram ao inferno...

Apesar disso tudo, Felipe conseguiu perceber alguma ternura nas palavras do General Barreiros.

– Está tudo bem com você, filho?

O General perguntou, mas Felipe voltou a ausentar-se, porque ainda tentava mastigar cada palavra que Celha lhe dera como explicação para aquela estadia em Boa Vista...

Ou seja, nenhuma verossímil.

Que sentimento de limitação...

Você sabe que o caldeirão está prestes a ferver, e que vai sobrar pra você quando ele virar, mas que mesmo assim você continua lá, assistindo...