quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IV - CAPÍTULO 7


Na mesma semana, em São Paulo capital, fazia uma bela madrugada. Siboldi e Mascarenhas voltavam de uma balada na periferia da cidade, quando foram cercados por duas vans escuras, sem placas, vidros escuros que mal dava para se identificar os passageiros, numa rua deserta próxima a uma favela...

Alguns homens fortemente armados já saíram dos veículos atirando, não dando a mínima chance aos dois oficiais do exército escaparem...

O Capitão Siboldi e o Primeiro Tenente Mascarenhas faleceram no local...

Nenhum dos dois constituíra família ainda.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IV - CAPÍTULO 6


O Sargento Gusmão era originário de Mato Grosso, e morava bem afastado da capital, numa região próxima à cidade de Barra do Garças, onde residia com sua esposa.

Seus filhos, um casal, já eram independentes; casados eles também e com filhos. Ambos moravam em Cuiabá.

Gusmão era avô de três netinhas; uma do filho e duas da filha mais velha.

Num belo entardecer de primavera, o avô orgulhoso assistia à televisão com sua esposa quando perceberam cheiro de queimado vindo de local desconhecido, mas próximo...

Quando eles foram verificar a origem, descobriram que um incêndio monstruoso queimava um dos quartos de hóspedes da espaçosa casa, um pouco afastada do conjunto arquitetônico principal, porém, ao que tudo indicava nada mais poderia ser salvo...

Tentaram de tudo para impedir que o incêndio se propagasse para o resto da casa. Não conseguiram.

O casal pereceu no incêndio...

Inexplicavelmente.

Isso tudo aconteceu uma semana depois dos incidentes na Raposa Serra do Sol.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IV - CAPÍTULO 5


Aquela sensação de catástrofe iminente, coisa poderosa, indispensável ao instinto de sobrevivência animal, embora, ao mesmo tempo, fosse incômoda para um ser humano também, como a farpa no dedão de um operário, há muito contaminara Felipe Corrientes...

As vozes da floresta, tanto Celha quanto Felipe ousariam proclamar mais tarde, “demoníacas!”, já nem abalavam mais...

Eles seguiam pelo labirinto verde como que possuídos de estranha febre...

E o batalhão atrás...

Como patinhos seguindo sua mamãe pelo abanar do rabo...

Celha, guiada cegamente por sua bússola feminina, obnubilada pelo pânico da morte, não reconhecia as estreitas trilhas escavadas a fórceps...

Agora os comunicadores estavam ligados, mas eles só escutavam os ruídos ameaçadores da conflagração generalizada...

As frequências eram as mais variadas, tanto nas faixas de comunicação normais, quanto nas modulações das expressões de morte e estupefação...

Nenhum sinal de Siboldi e dos demais membros do comando foram captados...

Mas também!...

Naquela confusão de ruídos embaralhados nas ondas do rádio, nada podia ser percebido com nitidez...

A reserva Raposa Serra do Sol era como um mar verde interminável para olhos humanos, e Celha Regina e Felipe Corrientes, como náufragos manchados de sangue...

Não viam sequer os soldados sob seu comando, que nem importavam nas estatísticas dos ovos que foram quebrados para que se fizesse a gemada geral...

Nenhum dos dois soube dizer a posteriori como chegaram sãos e salvos ao 7º PEF...

Celha não falava coisa com coisa, articulando palavras vazias misturadas ao horror do espetáculo sangrento...

Felipe Corrientes, este então, só sabia dizer uma coisa: “não sei, pergunte a Tenente Nascimento”...

Daqueles homens enviados para acompanharem os dois tenentes, só foram identificados depois, a maioria deles na lista dos óbitos.