Aquela sensação de
catástrofe iminente, coisa poderosa, indispensável ao instinto de sobrevivência
animal, embora, ao mesmo tempo, fosse incômoda para um ser humano também, como
a farpa no dedão de um operário, há muito contaminara Felipe Corrientes...
As vozes da
floresta, tanto Celha quanto Felipe ousariam proclamar mais tarde,
“demoníacas!”, já nem abalavam mais...
Eles seguiam pelo
labirinto verde como que possuídos de estranha febre...
E o batalhão
atrás...
Como patinhos
seguindo sua mamãe pelo abanar do rabo...
Celha, guiada
cegamente por sua bússola feminina, obnubilada pelo pânico da morte, não
reconhecia as estreitas trilhas escavadas a fórceps...
Agora os
comunicadores estavam ligados, mas eles só escutavam os ruídos ameaçadores da
conflagração generalizada...
As frequências eram
as mais variadas, tanto nas faixas de comunicação normais, quanto nas
modulações das expressões de morte e estupefação...
Nenhum sinal de
Siboldi e dos demais membros do comando foram captados...
Mas também!...
Naquela confusão de
ruídos embaralhados nas ondas do rádio, nada podia ser percebido com nitidez...
A reserva Raposa
Serra do Sol era como um mar verde interminável para olhos humanos, e Celha
Regina e Felipe Corrientes, como náufragos manchados de sangue...
Não viam sequer os
soldados sob seu comando, que nem importavam nas estatísticas dos ovos que foram
quebrados para que se fizesse a gemada geral...
Nenhum dos dois
soube dizer a posteriori como chegaram sãos e salvos ao 7º PEF...
Celha não falava
coisa com coisa, articulando palavras vazias misturadas ao horror do espetáculo
sangrento...
Felipe Corrientes,
este então, só sabia dizer uma coisa: “não sei, pergunte a Tenente Nascimento”...
Daqueles homens
enviados para acompanharem os dois tenentes, só foram identificados depois, a
maioria deles na lista dos óbitos.