sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 5 - PARTE 6


 O cunhado achou-a “muito esquisita”, principalmente porque sugeria um assassinato. Ele achou melhor contatar a Polícia Federal mais tarde, uma vez que a própria era citada na mensagem em questão...

– Mas aí você vai envolver a Sylvia nisso! – protestou o marido da secretária, muito preocupado, como era natural.

– Não necessariamente – respondeu o irmão do marido. – Esses caras são craques nesse tipo de coisa...

– Que coisa? – insistiu o marido de Sylvia.

– Eles vão investigar sem que a Sylvia corra qualquer risco, ué...

– Mas o Celso sabe que eu li a mensagem – advertiu a própria Sylvia.

– Calma – volveu o cunhado. – Não há o que temer. Pelo menos por enquanto. Eu sugiro que você aja como se não soubesse de nada. E se for consultada por um dos seus chefes negue tudo, continue a se fazer de desentendida...

Mas o cunhado enganou-se no seu diagnóstico...

No entanto, por via das dúvidas, ele mesmo entrou em contato com a Polícia Federal...

Levaram uns dois dias até que ele estivesse no telefone com Giuliano Mouzon...

Depois do contato preliminar, Mouzon resolveu fazer uma visitinha ao colega na delegacia onde ele estava lotado. Nesta ocasião o cunhado de Sylvia deu-lhe uma foto da esposa do seu irmão, por coincidência ou não, tirada naquele mesmo dia do churrasco, quando ele tomou conhecimento do incidente entre Sylvia e os patrões na Sweetwaters. Assim sendo, o cunhado aproveitou a oportunidade para passar para Mouzon o conteúdo da mensagem transcrita pelo punho da própria Sylvia...

Mouzon sorriu de orelha a orelha, quando leu aquelas linhas enigmáticas, ainda que não realizasse instantaneamente seu conteúdo, mas a intuição do delegado era poderosa como um relâmpago, então ele releu a mensagem eletrônica codificada, tentando absorver seu conteúdo.

“Finalmente”, desabafou Mouzon, acrescentando: “Uma luz no fim do túnel”...

O cunhado de Sylvia encarou-o como se esperasse por um esclarecimento, mas Mouzon não entrou em detalhes a respeito do caso, o que fez com que o cunhado nem tentasse insistir.

Enfim...

Mouzon saiu da delegacia com o destino bem traçado em sua cabeça...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 5 - PARTE 5


Ao mesmo tempo, a mente de Celso Pontes trabalhava febrilmente...

Será que ela leu a mensagem?...

Claro que leu! O negócio é se ela entendeu o que estava escrito...

Acho que não...

Como ela poderia entender?...

De qualquer maneira é bom ficarmos de sobreaviso...

Vamos ver o que a Wirna vai dizer...

A “Wirna” quase estrangulou o companheiro quando soube do ocorrido. Sua primeira reação foi responder ao A2, a fim de relatar tudo a ele, mas logo desistiu. Não poderia dar uma demonstração de tamanha incompetência. Por um segundo ela acreditou que os ares tropicais a haviam contaminado em demasia, porém não demorou a entender que este assunto poderia ser facilmente administrado por ela mesma...

Sim, mas o que perpassou sua mente naquele momento dizia respeito a A2, de uma forma ou de outra...

Sentou diante do seu laptop e digitou uma mensagem destinada a A2. A mensagem era curta: “Enviem-me o Zelador. Status: urgentíssimo”.

“Zelador” era o código que designava a função de Nestor Amarilla dentro da hierarquia do PAÍS DAS ÁGUAS. Ou seja, pau para toda obra. Para a felicidade geral da nação, o “zelador” encontrava-se justamente no Rio de Janeiro. A resposta demorou menos que um dia para chegar.

Tudo estava resolvido.  

Por outro lado, Sylvia comentou este acontecimento com seu marido, ali, na hora do jantar, os dois sozinhos, esse tipo de coisa, um dos filhos na rua, a outra na faculdade...

Conversaram horas sobre todos os prováveis desdobramentos daquela fatídica mensagem. O marido de Sylvia achou que ela deveria esquecer o assunto, “pro seu próprio bem”, mas acontece que no fim de semana, num churrasco de família, o cunhado, delegado de polícia, foi consultado a cerca do conteúdo desta mensagem quase criptografada...

Sylvia não havia se esquecido de nenhum detalhe da dita cuja; tinha uma excelente memória; então o cunhado pediu-lhe que escrevesse o que ela se lembrava...

sábado, 22 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 5 - PARTE 4


E flagrou-a debruçada sobre o seu laptop...

Sylvia perdeu a cor.

Num primeiro momento a ânsia de Celso foi voar no pescoço de Sylvia e torcê-lo com requintes de crueldade, mas entendeu rápido demais que não deveria chamar a atenção da secretária para o que ela acabara de ler no seu computador...

– Quem deu ordem pra a senhora entrar na minha sala, D. Sylvia? – disse ele sério, demonstrando autoridade, mas sem perder a linha.

– Não... É que... O alarme apitou no seu laptop, Senhor... Aí eu fiquei com medo que fosse alguma coisa muito importante, e como o senhor não se encontrava aqui na hora que a mensagem chegou...

– Está bem, D. Sylvia. Eu já entendi tudo. Por ora é só. A senhora pode se retirar...

Sylvia saiu cabisbaixa, mas Celso não tocou mais no assunto.

– Eu quero que a senhora tente localizar Dona Wirna...

– O celular dela não atende, seu Celso – respondeu a pobre e assustada Sylvia, que tremia pelo corpo todo. – Eu já tentei.

– A senhora já saiu pra almoçar?

– Ainda não, seu Celso.

– Então pode ir agora... Está muito calmo isso aqui hoje...

– É mesmo, seu Celso – volveu ela, ainda nervosa. – O próprio telefone quase não tocou e eu fiquei sem ter o que fazer... Bom, de’x’eu ir, seu Celso...

Sylvia saiu do escritório dos patrões, amaldiçoando a própria imprudência. Seu medo era visível...

E se o Celso contar o que aconteceu pra dona Wirna e ela me mandar embora?

Ai, Sylvia, como você é burra!

Ah!... Quer saber?... Foda-se a Sweetwaters!

Ela foi almoçar, balançando os ombros caídos. Não tinha muitas esperanças nos homens...

Tampouco nas mulheres...

Minha vida é uma merda mesmo!

Foi o último pensamento de Sylvia Salgado antes que a porta do elevador se fechasse...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 5 - PARTE 3


Apareceu a caixa de entrada do correio eletrônico de Celso Pontes...

Várias mensagens estavam listadas...

Uma, em particular, continuava a emitir o estranho ruído, sendo destacada das demais...

Alguém cognominado Smith I, que Sylvia obviamente não conhecia, mandava um aviso a alguém apelidado A5...

Será que A5 era o Celso?

Mas porque esta mensagem cifrada?

Tudo muito misterioso. Sylvia não tinha nada com isso, mas ela se coçava de curiosidade para saber mais, porém não teve coragem de abrir a mensagem do chefe...

E o aviso luminoso continuava...

E nada do Celso Pontes aparecer...

Meu Deus, o que fazer?

E se for o caso de vida ou morte?

Ela clicou na mensagem do tal Smith I...

A mensagem apareceu na telinha:

“Atenção A4 e A5! A1 determinou que ultimemos os detalhes finais para a conquista do PAÍS DAS ÁGUAS. A Polícia Federal não pode pôr as mãos, em hipótese alguma, no Zelador. Eles estão apertando o cerco em toda parte, inclusive aí no Rio de Janeiro. Todo cuidado é pouco. A1 procura um novo A6 depois da morte do Coronel Paglia. Assinado A2”.

Porém, antes que Sylvia pudesse chegar a qualquer conclusão acerca daquela mensagem pra lá de enigmática, Celso Pontes retornou do “banheiro”...

domingo, 16 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 5 - PARTE 2


Wirna Schwarschlegell não se encontrava na Sweetwaters hoje...

Sylvia não tinha nenhuma idéia onde a austríaca tinha ido parar...

Mas o Celso Pontes ficara trancado a manhã inteira no seu escritório privado, que dividia com a verdadeira dona...

Aonde essa sacana dessa austríaca se metera?

Esta era Sylvia Salgado em todo o seu esplendor.

A porta do escritório estava escancarada; Celso havia saído há poucos instantes e se demorara, talvez estivesse no banheiro, outra coisa que a secretária da Sweetwaters ignorava...

Quando de repente um som estranho soou no escritório, tipo um alarme, ou uma campainha...

O alarido prolongou-se por tempo indeterminado, o que incomodou Sylvia.

Uma vez que Celso não aparecia de jeito algum, ela não teve escolha, e foi verificar a origem do ruído...

Quem sabe Celso tivesse esquecido o celular em cima da mesa e Dona Wirna quisesse falar com ele...

Mas quando Sylvia entrou no escritório dos patrões, viu que o laptop de Celso estava ligado e o alarme partia de um pequeno sinal luminoso, o que os entendidos em Internet costumam denominar banner...

O banner piscava, fazendo o som de advertência já conhecido, e aquilo, na opinião de Sylvia, parecia extremamente importante...

Sylvia resolveu arriscar e clicou bem em cima do sinal luminoso...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 5 - PARTE 1


Que desperdício do meu tempo eu ficar aqui à toa, olhando pra merda dessas divisórias de madeira, quando não tenho nada pra fazer nem ninguém pra conversar, mas onde estão as pessoas que trabalham neste escritório?...

Não acredito que haja alguém amigo do trabalho por aqui...

Droga!

Ela desabafa, bufando pelas lindas narinas dilatadas de uma raiva finita, porque hoje é o seu dia, embora ainda não o saiba...

Que merda de vida é essa qu’eu levo a minha vida toda sem nenhuma perspectiva de melhora?

Ela espuma contrariada, maldizendo sua canhestra sorte, porém reconhecendo que não é formada, o que não lhe permite vislumbrar horizontes melhores do que este...

Então ela ora aos céus azuis mais uma vez...

Ai meu São Jorge! Me dê a benção de ganhar na loteria e passar o resto da minha vida fazendo cruzeiros pelas Ilhas Virgens...

Não é uma idéia lá muito original...

Mas tudo vale a pena quando a vida é pequena.

Idéias curtas nos levam logo ali...

Porém, quando a imaginação trabalha, o atalho não é curto.

Esta, sim, tem qualquer coisa de sensacional! Uma vez que Sylvia Salgado estava absolutamente apática do ponto de vista produtivo...

Mas isto não era tudo o que se depreendia de suas palavras ocas...

Ou melhor, pensamentos frívolos, vãos, próprios de uma mente ociosa, limitada, porquanto nunca teve oportunidade de enxergar, embotada pela sociedade produtora de bens de consumo Ltda...

Entretanto Sylvia Salgado estava muito longe desses conflitos de consciência...

E, no entanto, ela seria a peça fundamental e involuntária na virada espetacular do jogo de sobrevivência que estava prestes a começar...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 4 - PARTE 4


Traficantes, policiais, soldados, e, obviamente, moradores na linha de tiro...

Uma coisa pavorosa, pois o velho adágio nunca perde o seu real valor: “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”...

Eis uma lei quase matemática...

Porém não pitagórica.

Nem é preciso mencionar que Nestor Amarilla, um dos motivos daquela “missão”, não foi encontrado...

Sequer traços de sua cueca mal lavada da noite anterior, quando fez amor com duas moradoras da comunidade de uma só vez...

Enfim...

Em contrapartida, houve uma semana de ações espetaculares por parte do crime organizado, que se espalhou por toda a cidade, aparentemente sem nenhuma conexão com esta ação das autoridades na Mangueira...

Ora essa!

Os criminosos, que têm o domínio das ruas, e, principalmente, dos morros cariocas, sacudiram a “Cidade Maravilhosa”, no que foi chamada a “semana do horror” pelos jornais e toda a imprensa.

Os bandidos, que agiram quase impunemente, assaltando pedestres, turistas, veículos particulares e coletivos, públicos ou não, matando pessoas, com ênfase em policiais de folga, incendiaram ônibus, promoveram quebra-quebras organizados, arrastões que envolviam centenas de excluídos habilmente controlados por esses agentes do crime, que possuem total controle das comunidades onde vivem, deixando o mundo estarrecido, devido à ousadia deste ato pusilânime.

As autoridades, que deveriam extirpar o mal pela raiz, ao contrário, se mostraram totalmente dominadas pelo poder do crime organizado, utilizando desculpas esfarrapadas para uma inação inexplicável e incompreensível.

Disto só há uma conclusão...

O Poder Público, eleito pelo povo, não toma as providências necessárias porque os homens por trás do voto já estão corrompidos de antemão; eles têm o seu quinhão de participação no lucro desta empresa maravilhosa que é o comércio de drogas ilícitas, que corrompe toda a organização da sociedade, e inviabiliza uma existência decente na cidade do Rio de Janeiro, e quiçá no mundo todo.

Isso tudo, engenhosamente orquestrado por um poder subterrâneo, invisível, cujo principal objetivo foi alcançado: o de desviar a atenção da opinião pública sobre o assunto Raposa Serra do Sol...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 4 - PARTE 3


 – Você pode ter certeza de uma coisa, Mouzon. Eu vou me divertir mesmo quando eu vir os responsáveis pela morte de Celha na cadeia, e eu tenho certeza que esse tal de Amarilla não é o único que vai dançar. Na verdade, mudando de assunto, eu não paro de pensar num enigma... Porque Celha Regina estava tentando me proteger quando nós arrombamos o acampamento de Amarilla?

– Talvez porque você morto não interessasse a ela – respondeu Mouzon de imediato, analiticamente. – Talvez ela visse em você muito mais do que um simples companheiro de trabalho... – Felipe não demonstrou muito agrado diante desta observação. – Você é quem está insistindo neste ponto, Felipe! Me perdoe, cara, mas parece que você está mesmo querendo sofrer. Existem “n” motivos para que Celha quisesse protegê-lo...

– Me diz outro que nós ainda não citamos.

– Um que, talvez, aos seus olhos, possa parecer inverossímil, reside no fato de que ela quisesse utilizá-lo para coroar uma missão em que estivesse envolvida...

– Por exemplo?

– Por exemplo, talvez ela fizesse parte mesmo da CIA, ou da Interpol, e estivesse empenhada em descobrir esta rota do tráfico que vocês interceptaram naquele dia... Eu não sei, Felipe. Realmente isto é nebuloso. Podemos ficar aqui o dia todo especulando, aí eu te pergunto: de que vai adiantar?

A resposta foi um solene silêncio por parte de Felipe Corrientes, e o conseqüente gesto de abaixar a cabeça e fechar os olhos, ainda cansados pelas noites mal dormidas, pelas inúmeras respostas engolidas com molho indigesto, interditas pelo destino incompreensível, que muitas vezes nos degola como carrasco monstruoso, sem misericórdia pelo ato consumado...

Amém.

Entretanto, o cerco da Mangueira continuava implacável...

Muita bala perdeu-se naquele morro!

Os moradores, em polvorosa, corriam para a segurança enganadora do asfalto atulhado de viaturas militares...

 Enquanto isso, mais efetivos em homens e armas chegava à favela...

Foi uma verdadeira ação militar, em sua mais pura acepção de guerra urbana...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 4 - PARTE 2


– Eu tenho uma sensação muito forte de que esse cidadão aí está guardando alguns segredos que não quer revelar. Está nos usando como escada, ou algo parecido – comentou Mouzon com Felipe, depois que Moffato foi atender não sei quem da Federal.

– Será que ele é outro da CIA na parada?

– Quem pode saber?... Até minha mãe pode ser da CIA sem eu saber... Até você...

– Ou Celha Regina...

– Esta é uma das possibilidades, a julgar por sua atitude incisiva naquele momento da invasão ao acampamento dos traficantes em Roraima...

– Eu também já pensei nisso, Mouzon...

– Esqueça isso, Felipe. Escute a voz da experiência! Nada vai mudar o que aconteceu...

– Não, com certeza, mas eu ainda posso ajudar a destrinchar esta confusão...

– Eu não o chamei pra você brincar de detetive – retrucou Mouzon com falsa reprimenda – mas porque sou seu amigo... Sabe, Felipe, você é muito jovem, tem uma carreira brilhante pela frente...

– Ah, não, Mouzon! Por favor! Você está falando igualzinho ao meu pai!

– É sério, rapaz! Não estou preocupado em bancar o paizão não, até porque eu nunca tive filhos, não sei nem como é. O que eu gostaria, sinceramente, é que você pudesse se divertir... Eu sei que você adora este tipo de trabalho. Estou errado?... Então. Na verdade, você tem de se livrar de uma culpa injusta. Pare de pensar que você foi o responsável pela morte de Celha Regina! Não é verdade! Ela morreu porque estava na hora dela. Você está bem vivo, meu rapaz!...