quarta-feira, 27 de julho de 2011

A ERA DE OURO DOS FARSANTES - II

Sempre houve artistas visionários; os exemplos são inúmeros, em todas as épocas da história...


Entretanto, é comum, hoje em dia, um sacripanta qualquer levar a fama de gênio por uma realização ruim, que, sob uma análise cuidadosa, esteticamente falando, não passaria nem pelos esgotos de Paris em 1900, embora grandes artistas frequentassem o submundo parisiense naquela época.




Por que ocorre isto...?


Tentemos elucidar o inexplicável!...


Os conceitos sobre os quais eu falei na postagem anterior, em relação às teses dos falecidos dadaístas, surrealistas, cubistas, concretistas, etc., muitas vezes ainda são aplicáveis aos dias atuais, porém a massificação, e posterior “pasteurização” de alguns deles, tornaram banais as obras de hoje que tentam imitá-los, simplesmente porque não possuem o comprometimento político, tampouco estético, daquela época. Nem poderia ser diferente!


O que acontece é que esses artistas, os atuais, usam artificialmente aqueles preceitos de ontem para engambelar o público ignorante de hoje, apesar da tão propalada e magnífica cadeia de informação que possuímos. Uma balela, como vimos na postagem anterior.


Muitas vezes os próprios “artistas” nem sabem do que tratam! Não dominam o seu próprio campo de atuação. Isto é o pior de tudo! Por isso eu os chamo como farsantes! Em outras palavras, estão fora do contexto histórico que levou, por exemplo, os expressionistas, impressionistas, cubistas, neoplasticistas, etc. a romperem com os modelos clássicos de há cem anos, e isto é impossível de se recriar artificialmente, ou seja, hoje, o que nós temos, na maioria das vezes, não passa de uma imitação sem vergonha! Um bando de frankensteins das artes plásticas, e o pior que isto contaminou todas as áreas artísticas...




Não sei se me faço compreender...?


Vamos falar hoje, dando exemplos detalhados, do cinema...


Um cineasta muito festejado no mundo inteiro pelos seus conceitos cinematográficos, cujas ideias extrapolaram o mundo do cinema, é Jean Luc Godard...


Particularmente, ele não entraria no meu Olimpo Artístico, mas reconheço que seu trabalho trouxe inúmeras inovações à História do cinema, com letra Maiúscula!




O que acontece é que um Zé Bedeu qualquer, talvez por questões de vaidade pessoal, frustração pós-coito, por uma questão de tráfico de influência e nada mais, consegue financiamento e apoio, muitas vezes oficial, para fazer um filme, que, numa análise fria feita por peritos, não seria exibido nem do jardim de infância de crianças débil mentais! E, ainda invocando uma das maiores prerrogativas da triste atualidade, o Q. I., este mesmo pretenso artista acaba festejado pela mídia e público, sem que um e outro, quase sempre ambos, não possua o menor fundamento estético para julgar uma obra sequer!


Outro exemplo...


 Bem atual até. Um cineasta muito festejado pelo público, não sei nem se pela crítica o é, um indiano radicado nos Estados Unidos, Shyamalah não sei das quantas... Não sei nem escrever o nome desta figura... Assisti a dois filmes deste “artista”. Em ambos, foi um desfilar de aberrações, deturpações, que, numa análise mais acurada sobre a matéria tratada, chega-se à conclusão de que o badalado diretor não dominava os temas escolhidos. Pode-se especular que este valente “filmante” talvez admirasse Alfred Hitchcock, este sim um mestre do gênero, e, no entanto, este homem, o Shymala, consegue financiamento e produção para seu lixo cinematográfico!




Os exemplos abundam...


Mas não pensem que eu esqueci o lixo fabricado aqui no Brasil!... Nana nina não! Este verdadeiro assassinato do cinema nacional, que já produziu homens da dimensão de um Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos... E o mais engraçado! Quando a Ditadura no Brasil matava e mandava sumir! O Brasil é ou não é um país surreal?




Agora estamos reduzidos ao.......... a......... ao.......... A quem mesmo?!


Conseguiram transpor para o cinema a pobreza das novelas: roteiros mais ou menos bem articulados, porém maquiados de uma linguagem simplória em demasia para que nenhum espectador tenha o trabalho de digerir a ideia, quase sempre pobre nos diálogos e na conclusão infantil, estapafúrdia às vezes, sem nexo com qualquer realidade histórico-filosófica ou estética. A própria linguagem cinematográfica, que transcende o discurso dos personagens, da história em si, extremamente pobre!...




Tudo exatamente como nos folhetins de TV, um subproduto das novelas de rádio, modelo já antigo quando foi transposto para a televisão na década de cinquenta! Só o que se mantém com alguma qualidade é a atuação dos atores e atrizes, alguns realmente muito bons, dentro dos melhores níveis que encontramos lá fora.




Não percam o fôlego, ainda não acabei de analisar a nossa Era de Ouro dos Farsantes...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A SOCIEDADE DO VRIL CONTINUA VIVA E ATUANTE - CONTINUAÇÃO

O líder da alcateia nazista continuou a duvidar da minha palavra, mas eu sobrevivi ao interrogatório...

Sim, sobrevivi, por isso conto esta história para todo o mundo.  Envelheci carregando uma grande dor em meu coração, porque depois dos últimos acontecimentos narrados acima, nunca mais revi a minha Cinthia.

Eu voltei aos Estados Unidos; aposentei-me e hoje vivo escondido por força dos relatos que vão a seguir...

Pode parecer contraditório eu conhecer o conteúdo dos relatos seguintes, uma vez que a protagonista sumiu de minha vida para sempre, porém ainda no meu tempo de diplomata a serviço das Nações Unidas, eu lutei para desencavar algumas das informações classificadas que ainda existiam sobre este caso, depois do desaparecimento definitivo de Cinthia.

Aconteceu o que aquele carrasco nazista havia anunciado previamente, ou seja, os líderes do IV Reich queriam Cinthia viva para eles mesmos interrogarem-na, pois achavam que ela possuía informações sigilosas que eu desconhecia. Por isso ela foi levada antes que a minha fuga fosse facilitada por agentes infiltrados nas fileiras nazistas.

Há várias pistas sobre o local real do esconderijo secreto dos nazistas no exílio. O mais citado deles localiza-se na Antártida, mas a verdade sobre este fato nunca foi comprovada. Nunca estive no continente gelado a fim de verificar pessoalmente a veracidade destes boatos. Mas, então, onde se localizava? Até hoje desconheço o local onde estávamos escondidos, mas com certeza se localizava em algum ponto da Argentina, e o fato é que Cinthia fora levada de lá a outro lugar supersecreto. Ao que tudo indica, os serviços secretos ocidentais tinham pleno conhecimento deste local, mas por que os nazistas não foram interceptados, é o busílis da questão.

Acho que tudo se esclarecerá um dia, ou mesmo algumas linhas adiante, não sei. Foram horas difíceis até que eu pudesse juntar os fragmentos do diálogo entre Cinthia e o chefão do IV Reich.  Não sei se o personagem não identificado se trata do famigerado Bormann ou não, mas eis aí os fragmentos do interrogatório de Cinthia frente ao suposto chefe do não menos suposto IV Reich...

CINTHIA: ...Algumas pessoas sabem que os principais líderes nazistas fugiram para a América do Sul...

BORMANN(?): Isto inclui a senhorita, claro. O seu governo, no entanto, sabe muito mais do que a senhorita... Acontece que esta “fuga” se deu com a conivência dos aliados. Muitos acreditavam que a máquina de guerra alemã fora “convidada” a auxiliar os aliados franco-anglo-americanos a derrotar Stalin, mas isto é uma enorme bobagem... Nunca houve interesse dos aliados em mover uma guerra contra a União Soviética, e a razão é muito simples: mesmo se nós ignorarmos os reais interesses políticos da última guerra de 39-45, do ponto de vista logístico, esta guerra seria absurda! O mundo estava à beira de outra crise econômica desde 1929, por conta dos gastos financeiros levados a cabo pelas nações para o esforço de guerra em curso. Ninguém teria recursos para iniciar outra guerra longa imediatamente...

CINTHIA: Acho que entendi. É claro que se não fosse o esforço industrial do Ocidente, a União Soviética não teria chegado aonde chegou...

BORMANN(?): Precisamente, minha cara... Tudo isto fazia parte do grande teatro encenado pelas grandes nações vencedoras da guerra, e nós da Alemanha também participávamos da encenação, mas o verdadeiro motivo, ah!... Este os povos jamais saberão... Era preciso que houvesse um estado de alarme permanente em toda a humanidade para que ninguém tivesse tempo para raciocinar, refletir sobre as contradições de tal guerra fria, mesmo os políticos ou os chefes dos complexos militares, e até mesmo alguns líderes mundiais. O medo de uma guerra nuclear devastadora era tão grande que ninguém nunca se perguntou por que nenhum dos dois blocos nunca chegou as vias de fato se aparentemente se preparava para isto, e sabe por que, senhorita? Porque nós detínhamos um conhecimento que, até então, nenhuma outra nação na terra, em toda a sua história, possuira...

O Terceiro Reich tinha às mãos um poder incomensurável, cuja tecnologia só fora imaginada por escritores da chamada ficção científica. Um poder que só foi possível alcançarmos porque tivemos a facilitação dos seus detentores...
Uma nação de outro planeta!...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A ERA DE OURO DOS FARSANTES - I

Os movimentos artísticos do início do século vinte, tais como o Dadaísmo e o Surrealismo, para citar somente dois dos mais polêmicos, supunham, mais do que uma vanguarda estética, um rompimento político com aquela sociedade que se impunha naquela fase de profundo inconformismo e inquietação antes de duas Grandes Guerras que quase destruíram o mundo.

O que as duas Grandes Guerras não conseguiram, estes movimentos artísticos fizeram, ou seja, mudaram toda uma forma de ver, sentir e abordar a pretensa “modernidade”, que já fedia há cem anos.

Hoje, no amanhecer de um novo século, em que um pálido reflexo daquela época chega aos nossos olhos sôfregos de tanta alienação e burrice, em que pese o copioso argumento da infestação da informação e cultura, argumento falho, disseminado pela mídia, mas que não condiz com a realidade prática de uma sociedade de consumo, cujos integrantes, descartados como prestobarba, arrotam hambúrguer respirando o Co2 dos veículos de uma indústria automobilística que está minando nossa atmosfera gradativamente, e, o que é pior, esses homens e mulheres de hoje, que possuem filhos e netos, e que trabalham sustentando esta indústria devoradora, onde irão morar amanhã? 

Somos todos filhos de uma ignorância atávica, que, se não pode nos destruir totalmente, pode fazer um estrago tremendo na face do mundo.


Quem somos nós, então, hoje? No que nos tornamos, para achincalharmos aquelas obras de arte maravilhosas, cheias de uma rebeldia que nos parece algo irresponsável sob o ponto de vista atual, reducionista, até pueril, entretanto, esta rebeldia, baseada numa observação atenta, de reflexão e sensibilidade, triunfou, apesar do obscurantismo que sempre tenta dilacerar aqueles que ousam questionar seu jogo perverso, e o que fizemos com este legado, transformando-o na mais miseranda manifestação de arte de todos os tempos, em todas as suas manifestações, excetuando, talvez, os quadrinhos, que se beneficiaram dos melhores meios de produção técnica?

Porque o cinema não acompanhou este crescimento? Haja vista que à melhoria técnica, desenvolveu-se também um aperfeiçoamento na produção e distribuição, que tornou muito mais fácil o desenvolvimento e disseminação do produto final, o filme.

As grandes ideias cinematográficas, entretanto, do ponto de vista estético, e principalmente político, ficaram dia a dia mais “aguadas”, mesmo nas mãos de grandes mestres como Woody Allen, Francis Ford Coppolla, Martin Scorcese, entre tantos outros, os franceses de uma maneira geral, os italianos, alemães, etc...

Acredito que o Glauber Rocha, se ainda vivo, estaria profundamente desapontado com o cinema que se faz hoje...


O que está acontecendo aos mestres da literatura, da música, das artes plásticas em geral, que se conformaram com a inutilidade suicida desta sociedade sem valores éticos, que nos devora neurônio a neurônio...?

Será que o vigor criativo dos gênios contemporâneos ainda vivos, que nos bafejou na juventude como uma tormenta incontrolável, numa produção estética grandiosa, e ainda enquanto eram um desafio prestes a mostrar os dentes, está morrendo em virtude da acomodação monetária e da cadeira de balanço da fama?


O fato lamentável é que indubitavelmente já não se fazem mais rebeldes como antigamente, e este antigamente de que eu falo só recua umas três ou quatro décadas, porque, se nós voltarmos mais ainda na linha do tempo, veremos que essa rebeldia santificada dos grandes artistas em questão era profusamente maior, como maior eram as obras de impacto, e maior era o número dos gênios em atuação.

A resposta sobre o diagnóstico desta crise “econômica” eu deixo pra vocês...



É indubitável que a crise de valores que norteia a estética de hoje devasta toda a produção artística do mal nascituro e já combalido século XXI. Lembremos que foi assim também ao embarcarmos no século vinte... Os professores de história deverão concordar comigo... Eça de Queirós, em seus artigos na imprensa, ainda em meados do século XIX, deixava entrever a nuvem negra que se arrastava em direção ao início do século seguinte. Não estou insinuando que uma nova guerra, de dimensões apocalípticas, está para estourar em algum lugar do globo, ainda que isto seja plenamente possível, mas sem dúvida nenhuma esta guerra já começou no interior dos corações humanos que frequentam as ruas do século vinte e um...


Do cinema nós meio que já insinuamos a parada quase total dos grandes gênios da sétima arte. Basta olharmos para a cerimônia do Oscar para verificarmos que realmente já não se fazem mais cérebros como antigamente... 

E quanto às artes plásticas...? Será que alguém aí pode me dizer quais são os valores que habitam nas cabeças pensantes desses artistas de agora, se é que cabeças eles possuem...? Quando você entra numa exposição de arte contemporânea e vê, por exemplo, as tais “instalações”, os tristes amontoados de quinquilharias e objetos prosaicos, que os dementes chamam de arte, é que se tem uma ideia do panorama real nas artes plásticas atuais... Dependendo do museu, vale mais a contemplação da arquitetura dele...


Por isso tudo eu ouso afirmar que nós estamos vivendo na Era de Ouro dos Farsantes, o que nos afeta de uma maneira geral, eis a pior das tragédias, e que os nossos “rebeldes” maravilhosos e suas obras transformadoras de há cem anos previram com pessimismo...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A SOCIEDADE DO VRIL CONTINUA VIVA E ATUANTE - CONTINUAÇÃO

A Patagônia ficara para trás. A embaixada americana em Buenos Aires concordou imediatamente em receber-nos, sem nenhuma condição, mas a questão dos espiões trazia certas complicações diplomáticas com as quais o governo dos Estados Unidos até estava disposto a enfrentar para tê-los em suas mãos. Entretanto, os dois agentes duplos não concordavam com esta troca. Eles não queriam servir nem a Gog nem a Magog; o que eles almejavam de fato era receber abrigo em algum país estrangeiro não alinhado, receber passaportes e documentos falsos, e viverem felizes para o resto da vida longe das agruras da guerra fria, porém o destino dispôs de outra forma.

Em relação aos demais agentes chilenos também havia problemas. Somente Garcia concordara com o plano de Cinthia. Na verdade, desde que ela salvara a sua vida na Alemanha Ocidental, ele parecia disposto a entregar o seu destino nas mãos daquele anjo de Hollywood. Pena que o destino dela parcialmente repousava em minhas mãos. Também no caso de Garcia e dos demais companheiros de Chile, o destino conspirava tremendamente...

Depois de muita discussão e negociação estávamos na Argentina. Um carro com a placa da embaixada americana veio nos buscar no aeroporto de Buenos Aires, mas nenhum de nós chegaria ao destino traçado desde Los Lagos...

No meio do caminho fomos interceptados por um carro com placa argentina, mas seus ocupantes, definitivamente, não falavam espanhol. A única coisa que me lembro daqueles momentos de pânico, é que fomos sequestrados sem muito alarde, numa operação relâmpago de raro profissionalismo, se é que posso me expressar desta maneira.

Cinthia e eu fomos sedados e separados do grupo. Fomos acordados algumas horas depois para somente aí descobrir que todos os agentes chilenos haviam sido sumariamente eliminados. Ainda não tínhamos noção do local aonde fomos levados. Nossos sequestradores não estavam interessados em perder tempo, além disso, não só eliminavam o excesso de testemunhas, como também economizavam o material necessário para a manutenção de todas aquelas pessoas clandestinamente.

Em separado fomos recebidos pelo chefe do grupo que nos sequestrara. Um homem alto, louro, bem apessoado e sem nenhum traço que o pudesse identificar, exceto que falava um bom inglês mas com sotaque. Não havia dúvida para mim que aquele homem bem na minha frente tinha uma ascendência alemã...

Com muita calma e segurança ele queria descobrir o motivo pelo qual eu, um embaixador dotado nas Nações Unidas, estaria ali em companhia de uma notória espiã norte-americana.

Respondi-lhe no ato, com a mesma cortesia com que ele me brindara, que não concordava com o resultado daquela ação arbitrária sob-hipótese alguma, e que a ONU, caso soubesse do meu sequestro, protestaria perante sua assembleia permanente.

Ele não ligou a menor importância às minhas palavras. Eu tinha certeza absoluta que aquele homem na minha frente pertencia ao extinto III Reich, ou ao emergente IV Reich, mas eu precisava continuar o jogo, porque ele talvez não desconfiasse do meu nível de entendimento em relação a este assunto, o que logo a seguir desvelou-se...

Ele, claro, não esclareceu a nenhuma das minhas dúvidas, limitando-se a sorrir quase descontraidamente, embora eu tenha notado o tom ameaçador de suas palavras.

 “Vocês, americanos, pensam que são os donos do mundo, mas o destino ainda lhes reserva uma grande lição...”

Eu questionei esta última assertiva; ele limitou-se a completar o seu raciocínio.

“Vocês não imaginam quem somos nós. O seu governo sabe, mas por uma questão de conveniência política, eu diria que por um simples lance tático de hegemonia temporária, jamais admitiria a existência de nosso grupo perante a opinião pública mundial...”

“Qual grupo, Herr...?”

“Para um simples diplomata o senhor é um bocado esperto, Senhor... Aliás, qual é mesmo o seu nome verdadeiro?”

“Estamos empatados, Herr Fritz... O Senhor quer saber quem eu sou, e eu gostaria imenso de descobrir que grupo é este ao qual o senhor se referiu e, afinal de contas, onde nos encontramos...”

“Esta sua última dúvida é fácil de esclarecer. Nós nos encontramos na Argentina... Ainda. Agora estamos verdadeiramente empatados, porém eu tenho um pênalti a meu favor... O destino final do senhor... Dependerá somente da minha boa vontade, e, claro, da benevolência e colaboração de vocês... A missão de Miss Hollywood nós conhecíamos há muito tempo, desde sua estada em Bariloche...”

“Sinto informá-lo que o Senhor acaba de desperdiçar o seu pênalti...”

“O senhor está enganado, Senhor Embaixador...”

Ele revelou-me a minha verdadeira identidade, mostrando o meu passaporte. Agora, como ele havia conseguido isto eu não sei, porque nós os havíamos deixado em Valparaíso, quando saímos às pressas da cidade fugindo dos esbirros nazistas.

 “Na verdade eu sou o árbitro desta partida”, continuou ele, sarcástico, “e cabe a eu determinar as regras a serem seguidas. No seu caso só há uma: o senhor terá de revelar qual o seu papel nesta missão que Miss Hollywood tentou levar a cabo. Ela foi até onde poderia chegar, identificou-nos, mas, infelizmente, não poderá concluí-la, embora eu tenha ordens expressas superiores para levá-la até a nossa central de energia, se assim posso me exprimir...”

“Infelizmente, Herr Fritz, pelo meu lado, eu não posso ajudá-lo. Eu sou aquilo que o meu passaporte diz, um simples diplomata da ONU. Nada mais. Eu vim até a América do Sul para tentar socorrer Cinthia, a mulher qu’eu amo. Não há mais nada qu’eu possa contar ao senhor de significativo.”

“Só falta o senhor me dizer que desconhecia a verdadeira profissão de Miss Hollywood...”

“Na verdade, Herr Fritz, até Bariloche eu desconhecia sim, mas um acaso gigante fez com que eu descobrisse tudo. Como minha cumplicidade com ela extrapola esta questão menor, nada mudou entre nós desde então, a não ser o peso da minha responsabilidade...”

“Então o senhor confessa que está ajudando Miss Hollywood em sua missão?”

“Negativo. Eu confesso apenas o quanto esta mulher representa para mim. O que o senhor faria se estivesse no meu lugar...?”

“Exatamente o que o senhor está fazendo...”

“Portanto...”

“Mentindo descaradamente!”

“Não posso revelar aquilo que não sei, Herr Fritz. Nem tudo Cinthia compartilha comigo.”

“Mas o senhor sabia que ela estava na nossa pista?”

“Claro! Pois se ela pediu-me socorro do Chile!”

“Então o senhor sabe que eu não poderei fazer nada por ela, não sabe...?

Não podia dizer a ele que sabia exatamente a quem ele se referia, o Chefe supremo do IV Reich, Bormann. Mas se eu dissesse isto seria carne queimada certamente.

“O senhor viajou ao Chile sem dificuldades?”

“Não se esqueça que possuo um passaporte da ONU, Herr Fritz.”

“Apenas conferindo algumas contradições de sua parte...”

“Não há contradição na verdade...”

“O senhor mente!... O senhor é igualmente um espião a serviço dos Estados Unidos da América! Isto está claro para mim! Só me resta descobrir qual é a sua missão! Sua companheira eu já conheço, e, como já disse, seu destino está além do meu poder, mas nós dois ainda podemos acertar os nossos ponteiros. Tudo o que o senhor tem a fazer é me contar a verdade, até porque se eu não a descobrir, o passo adiante será bem mais dramático...”

“Reafirmo tudo o que já disse... Não há nenhum mistério em minha presença na América do Sul. Não há nenhuma novidade mirabolante para eu revelar-lhe.”

“Pois muito bem, “Senhor Embaixador”. Lavo minhas mãos...”

E com estas palavras, Herr Fritz, ou Hans, ou Klaus, deixou a minha doce presença...