quinta-feira, 19 de abril de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IX - CAPÍTULO 1 (CONTINUAÇÃO)


– Eu ainda não vi meu advogado, delegado – retrucou Salas num português correto, mas com sotaque carregado.

– O senhor o verá, assim que responder a algumas perguntas...

– Jamais pensei em desprezar sua inteligência, delegado – volveu o espião com desdém. – Peró, o que está além de mim é inatingível para ustedes...

– O senhor, por um acaso, é amigo de Ildebrando Seixas?

Mais uma vez Mouzon quebrara o cinismo do traficante.

– Eu diria que muito mais do que isso, não é mesmo, Senhor Castro? O Senhor, isto é uma suposição, com bastante lógica, admito, mas é. Mas você talvez seja o homem de ligação entre as drogas que passam pela fronteira da Venezuela, entram no Brasil, abastecem o mercado interno, e o excedente é despachado para o exterior via Miko...

Castro/Salas riu.

– Ria, “Comandante”. Enquanto seu “abogado” não vem o senhor tem todo o direito de permanecer calado... Talvez esta história toda não passe de fachada para um negócio muito maior, como o senhor mesmo deixou entrever... Resta apenas para eu investigar qual é a participação, se participação há, de Ildebrando Seixas e Tanaka Osumi neste negócio... Fique à vontade, “Comandante”. O Senhor quer comer alguma coisa?  Talvez uma dose de uísque?... Vamos ver o que há no nosso estoque de corrupção daqui. Já volto...

Mouzon saiu novamente.

Salas/Castro manteve-se impassível.

– E aí? – perguntou-lhe Moffato.

– Vamos falar com Paranhos...

– Que que foi?

– Primeiro vamos consultar a Interpol, depois, se pudermos, o FBI...

– O que você conseguiu tirar dele? – perguntou Moffato com uma ponta de entusiasmo.

Mouzon sorriu antes de dizer:

– Absolutamente nada – Moffato abriu os braços. – Esse cara é quente, não resta a menor dúvida. Estamos na pista certa. Mas também temos que levantar a ficha completa do japonês e do rizicultor, embora eu acredite que eles são peças de manipulação neste jogo...

– Que jogo?

– Espionagem em alto grau...

– Espionagem industrial?

– Não! – exclamou o delegado com veemência. – Coisa muito mais séria...

– Mas o que, homem?!

Giuliano Mouzon recusou-se a liberar o conteúdo do seu pensamento.

Moffato ficou parado no meio do corredor, encafifado. Ele também possuía certas informações que não compartilhara com o companheiro.

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