– Eu ainda não vi
meu advogado, delegado – retrucou Salas num português correto, mas com sotaque
carregado.
– O senhor o verá,
assim que responder a algumas perguntas...
– Jamais pensei em
desprezar sua inteligência, delegado – volveu o espião com desdém. – Peró, o
que está além de mim é inatingível para ustedes...
– O senhor, por um
acaso, é amigo de Ildebrando Seixas?
Mais uma vez Mouzon
quebrara o cinismo do traficante.
– Eu diria que
muito mais do que isso, não é mesmo, Senhor Castro? O Senhor, isto é uma
suposição, com bastante lógica, admito, mas é. Mas você talvez seja o homem de
ligação entre as drogas que passam pela fronteira da Venezuela, entram no
Brasil, abastecem o mercado interno, e o excedente é despachado para o exterior
via Miko...
Castro/Salas riu.
– Ria, “Comandante”.
Enquanto seu “abogado” não vem o senhor tem todo o direito de
permanecer calado... Talvez esta história toda não passe de fachada para um
negócio muito maior, como o senhor mesmo deixou entrever... Resta apenas para eu
investigar qual é a participação, se participação há, de Ildebrando Seixas e
Tanaka Osumi neste negócio... Fique à vontade, “Comandante”. O Senhor quer
comer alguma coisa? Talvez uma dose de
uísque?... Vamos ver o que há no nosso estoque de corrupção daqui. Já volto...
Mouzon saiu
novamente.
Salas/Castro
manteve-se impassível.
– E aí? –
perguntou-lhe Moffato.
– Vamos falar com
Paranhos...
– Que que foi?
– Primeiro vamos
consultar a Interpol, depois, se pudermos, o FBI...
– O que você
conseguiu tirar dele? – perguntou Moffato com uma ponta de entusiasmo.
Mouzon sorriu antes
de dizer:
– Absolutamente
nada – Moffato abriu os braços. – Esse cara é quente, não resta a menor dúvida.
Estamos na pista certa. Mas também temos que levantar a ficha completa do
japonês e do rizicultor, embora eu acredite que eles são peças de manipulação
neste jogo...
– Que jogo?
– Espionagem em
alto grau...
– Espionagem
industrial?
– Não! – exclamou o
delegado com veemência. – Coisa muito mais séria...
– Mas o que,
homem?!
Giuliano Mouzon
recusou-se a liberar o conteúdo do seu pensamento.
Moffato ficou
parado no meio do corredor, encafifado. Ele também possuía certas informações
que não compartilhara com o companheiro.
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