domingo, 25 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 8


Dona Wirna me pediu pra ficar até um pouquinho mais tarde hoje...

Meeerda!

Logo hoje qu’eu ia sair com o Rodolfo!

Já liguei desmarcando tudo...

O seu Celso já foi embora...

Ela tá aí ainda...

Falando ao telefone o tempo todo...

Naquela língua complicada dela...

Às vezes ela fala em inglês também...

Eu entendo alguma coisa...

As coisas andam muito agitadas na Sweetwaters ultimamente...

O Rodolfo ficou preocupado com aquelas coisas que o irmão dele falou pra gente...

Eu fiz o que ele mandou...

Tô fazendo de conta que não aconteceu nada...

E o seu Celso não tocou mais no assunto...

Nem a dona Wirna...

Sabe do que mais? Não aconteceu absolutamente nada! O seu Celso e a dona Wirna não são criminosos, assassinos...

É tudo besteira...

– D. Sylvia... – disse Wirna Schwarschlegell, abrindo a porta de sua sala. – A senhora pode ir. Eu fecho tudo por aqui. Obrigada. Até amanhã...

Sylvia Salgado pegou suas coisas, já estava tudo arrumado, e despediu-se da patroa.

“Talvez ainda haja tempo de pegar aquele cineminha com o Rodolfo”, pensou Sylvia, satisfeita da vida.
Ela deixou o prédio na Sweetwaters, como sempre fazia, em direção a sua casa...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PARTE 7


– Descubra tudo o que você puder sobre as conexões entre a Sweetwaters e os figurões de Boa Vista...

– E se houver outros testas de ferro acima desses?

– Nós descobriremos, Sérgio. Não se preocupe...

– Posso lhe fazer uma pergunta, Felipe? Acredito que você não foi tão honesto comigo...

– Mais ou menos. Se você precisar de outros dados pra acrescer a sua matéria, é só nos procurar...

– OK, Felipe. Muito obrigado. Mas você pertence ao serviço de inteligência do exército, não é?

– Eu trabalhava no 7º PEF...

Sérgio Tavares continuou fitando seu interlocutor, sem esconder a surpresa.

– Eu, e minha colega no quartel, a Tenente Nascimento, fomos os responsáveis pelo desmantelamento do acampamento dos traficantes, bem como a prisão do seu chefe, o Comandante Salas... – continuou Felipe, mudando de tom. – Mas no dia que os traficantes voltaram pra se vingar – continuou Felipe – eu estava em Boa Vista... Acho que fui sorteado no céu pra sobreviver naquele dia – desconversou Felipe.

A pausa que veio a seguir significava que Sérgio Tavares estava digerindo aquilo que acabara de ouvir.

– Que situação! – disse o jornalista, que não tinha mais nada para dizer. – Bem... Eu posso ligar pro seu hotel?... Caso descubra novas pistas?

– Fique à vontade – retrucou Felipe, ainda sério. – Ou entre em contato com Mouzon – continuou ele, entre debochado e carinhoso. – Nós trabalhamos juntos neste caso, esqueceu?

Felipe se levantou do luxuoso sofá onde se sentara. Esta sala devia ser destinada a convidados muito especiais. Ele deu uma última piscada de olho para o jornalista e saiu.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PARTE 6


– Estou pensando que a Sweetwaters é a maior Organização Não Governamental ambientalista em atividade no mundo. E por estar presente em todos os cantos do planeta, eles conhecem como ninguém os segredos de cada ecossistema... Meu Deus, Felipe! A Sweetwaters talvez sirva de fachada pro maior golpe de apropriação indébita da face da Terra!

– Muito mais do que isso, Sérgio. A Sweetwaters, na verdade, não passa de uma agência de inteligência apátrida, com a função de investigar e enviar as informações necessárias pra esses grupos particulares envolvidos com desestabilizações políticas nos locais de interesse deles...

– E com a anuência dos governos nacionais...

– E de toda a sociedade local que os auxilia...

– Quem são essas eminências pardas manipulando a Sweetwaters, Felipe?

– Você não quer que eu faça o dever de casa pra você, quer?

– Agora eu estou entendendo o que o Mouzon e o Paranhos queriam de mim...

– A PF vai gostar de saber disso...

– Mas você está... trabalhando com eles? – perguntou Sérgio Tavares, incrédulo. Felipe anuiu, paternalmente. – Agora está tudo claro pra mim...

 – Acho que podemos colaborar muito mais uns com os outros...
 
        – Eu também acho – retrucou Sérgio, satisfeito, e emendou mordaz: – Diga ao Mouzon que ele não precisa ficar preocupado. É do meu interesse também apurar toda esta história...

sábado, 17 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PARTE 5


– Mas se essas pessoas com um poder acima da lei querem pôr a mão no ouro e nas outras riquezas que estão por lá, o que as está impedindo?

– Está é a questão, Sérgio. Imagine que daqui a um par de décadas, a água se torne um bem muito mais precioso do que o petróleo é hoje...

– De certa forma já é; existe pirataria de água na Amazônia.

– Eu sabia que você era um sujeito bem informado. Agora continuemos o nosso exercício de imaginação... Vamos supor que haja entre essas pessoas um círculo bem menor, que deseje tornar toda esta região uma grande fazenda privada...

– Seriam os donos da maior reserva de água potável do planeta.

– Eu não estava mentindo quando disse que você tinha um cérebro, Sérgio Tavares...

– E quem seriam os candidatos a donos da Amazônia?

– Novos personagens apareceram na trama de ontem pra hoje...

– Novos personagens ou novas instituições?

– Ambos...

– Cite-me um apenas...

– Vou citar uma instituição que talvez seja o fiel da balança nessa história...

– Diga...

– Você conhece a Sweetwaters?

– Se eu conheço a Sweetwaters? Eu já estive lá entrevistando os dois executivos responsáveis pela ONG no Brasil...

– Então você sabe os nomes deles...

– Mas é óbvio que eu sei... Meu Deus!...
 
          – Acho que posso imaginar o que você está pensando neste instante, Sérgio...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PARTE 4


– Essa é nova pra mim!

– Voltando àquela história do 7º PEF, você deve ter lido que aquela unidade foi completamente destruída por um ataque dos traficantes, matando todos os militares que estavam de serviço naquela oportunidade. Foi uma retaliação dos traficantes, sabia?

– Porquê?

– Porque dias antes, nós e a Polícia Federal havíamos estourado um acampamento clandestino deles, e capturamos um homem de nacionalidade venezuelana, um tal de Comandante Salas, que nós descobrimos estar infiltrado na Miko Exportação & Importação, uma empresa japonesa que comercializa a produção dos rizicultores naquela região...

– Realmente, Felipe. Há muito mais coisas que imagina nossa vá imprensa – retrucou Sérgio zombeteiro.

– Você é um jornalista muito bem informado, Sérgio Tavares, sem dúvida...

– Sem dúvida, Tenente Corrientes. Agora estou me lembrando daquela lista de notáveis da sociedade de Boa Vista que o delegado Paranhos me mostrou quando eu estive por lá...

– Tem muita gente envolvida nesse caso da Raposa Serra do Sol agindo por trás dos bastidores, manipulando pessoas para alcançar um fim bem específico...

– A devastação da Amazônia?

– Talvez eles não queiram a devastação da floresta em si, e sim torná-la uma área mais rentável...

– Eles quem, Felipe?
 
          – Bom, aí nós entramos numa seara de pura especulação...

sábado, 10 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PART 3


– Porquê?

– Você deve ter lido nos jornais sobre o ataque que sofreu o 7º Pelotão Especial de Fronteira de Uiramutã, há alguns dias atrás?...

– Sim, eu li.

– E a que conclusão você chegou?

– Há muita coisa envolvida nesta região, tenente... E o tráfico de drogas internacional, como a hidra que lutou contra Hércules, estende seus tentáculos por todos os lados...

– Bem, vejo que você tem um cérebro que pensa mais ou menos...

– E enxergo muito bem também. Talvez vocês estejam procurando o Hércules pra acabar com o monstro, não é?

– Muito espirituoso... Você não está fazendo uma matéria sobre o tema?

– Sobre as lendas gregas?!

– Você, realmente, é muito engraçado...

– Não, tenente. Na verdade eu não tenho muito senso de humor.

– Não tem importância. Não há nada de engraçado acontecendo em Roraima...

– Nada mesmo.

– Mas e a sua matéria sobre o assunto?

– Na realidade ela está quase pronta...

– Por um acaso você menciona as múltiplas conexões do tráfico internacional com outros setores importantes da sociedade?

– Quais setores? Seja mais específico, por favor. 
 
         – Os rizicultores...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PARTE 2


Ao voltar ao seu hotel, Felipe recebeu um recado de Sérgio Tavares. Ele só deixara um telefone celular para entrar em contato.

Por volta de nove horas da noite as duas personagens puderam se encontrar. O local de encontro foi mesmo no jornal, numa sala reservada pelo próprio Sérgio Tavares para a ocasião.

– Confesso que seu recado, Tenente Corrientes, me deixou bastante intrigado. Eu não sabia que o “Exército” está trabalhando no caso da reserva Raposa Serra do Sol...

– Mais ou menos. A propósito. Pode me chamar pelo meu primeiro nome, e esqueça-se da minha patente.

– Muito bem. Você conhece o delegado Giuliano Mouzon da polícia federal?...

– Mais ou menos...

– Eu acho que você está querendo mais ou menos me despistar...

– Mais ou menos.

– O que vocês do exército estão procurando?

– O que nós queremos é aprofundarmos o cabedal de conhecimentos sobre este incidente...

– A questão da invasão das fronteiras, não é isso?

– Mais ou menos.

– Eu acho que você deve entrar em contato com o delegado Mouzon. É ele quem está investigando os acontecimentos na reserva...

– Eu já o conheço, Sérgio Tavares.

– Eu o conheci em Boa Vista, quando a investigação estava apenas começando, e naquela oportunidade eu lembrei a ele que minhas fontes naquele estado eram iguais à zero...
 
        – Não se engane, Sérgio. Eu estou interessado nas suas fontes aqui do Rio e de São Paulo...

domingo, 4 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 7 - PARTE 1


Naquele mesmo dia, na parte da tarde, Felipe Corrientes saiu de seu hotel com destino à sede do jornal Folha da Tarde, entretanto, como era natural em situações como essas, não o encontrou de prima.

Mostrou sua carteira de identidade militar e pediu que o jornalista entrasse em contato o mais rápido possível, mas acabou se lembrando que acabara de jogar o seu celular fora. Não tinha importância. Deu o endereço e o nome do hotel onde estava hospedado, bem como o número do seu apartamento, e deixou o jornal. 

Ficou circulando pelo Centro velho da cidade, admirando algumas belezas arquitetônicas que ainda estavam de pé, a despeito da má conservação de muitos dos monumentos históricos da cidade do Rio de Janeiro, e foi parar na Praça da Cruz Vermelha, onde uma multidão se aboletava diante do Hospital do Câncer, tendo como vizinho, do outro lado da Praça, a sede da Cruz Vermelha no Brasil, outro prédio antigo caindo aos pedaços.

Sentou-se num dos banquinhos da praça e, juntamente com mendigos, desocupados, outros suspeitos em geral, e pacientes e acompanhantes do hospital do câncer, pôs-se a observar a chusma de pessoas que circulava pelo local, cada qual com suas esquisitices peculiares. Observou também o trânsito caótico das ruas próximas, e as barbaridades que os motoristas faziam, utilizando-se dos veículos para extravasar seus desvios psíquicos, e de como essas pessoas, ignorando sua doença social, faziam manobras absurdas com toda a impunidade dos agentes da lei, se convencendo de vez que a situação do Rio de Janeiro beirava mesmo a insanidade absoluta.
 
        Qual seria o remédio para esse tipo de situação limite? Perguntava-se Felipe Corrientes. Ele teve dificuldades para chegar a um diagnóstico preciso; talvez nem mesmo os médicos, que trabalhavam ali defronte, soubessem; mas intuiu, muito acertadamente, que a receita, qualquer que fosse, seria bastante amarga para a população desvairada, apressada e aflita, que parecia carregar um parasita não identificado...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 6 - PARTE 8


– O quê?!...

– Ele conhece muita gente importante. Trata-se de um jornalista engajado...

– Engajado em quê?

– Em produzir notícias. Nós precisamos de informação; então nós vamos contar a ele mais ou menos o que está acontecendo pra conseguir essas informações... Tá entendendo, Felipe? Acho que sim, afinal você era um S2...

– É... – retrucou Felipe com ânimo renovado. – Vamos ver o que esse tal de Sérgio Tavares tem pra nos contar sobre a Sweetwaters...

– Não só sobre a Sweetwaters, mas talvez sobre o próprio Senhor das Águas...

– Mas então você sabe quem é ele?

– Claro que não. É apenas um palpite. Não tenho nenhuma prova...

– Quem é o sacana, Mouzon? Fala!

– Calma, Felipe! Se você não puder me ajudar, é preferível ficar de longe pra não atrapalhar...

– Tá bom... Você tem razão...

– Não sei se é um bom negócio botar você nisso, sabe...

– Não, Mouzon... Eu sou treinado pra isso...

– Assim é que se fala! Lembre-se, se você pisar na bola nós estamos fo-di-dos!

– Pode confiar em mim. Quem é o cara?

– Ildebrando Seixas ou Osumi Tanaka – retrucou Mouzon reticente. – Arroz com feijão. Batman e Robin. Romeu e Julieta. Tonico e Tinoco...

– É bem possível, Mouzon – tornou Felipe depois de raciocinar um tempo. – O patife do Amarilla deve mesmo trabalhar pra eles...

– Percebe? O apagador de incêndios no PAÍS DAS ÁGUAS. Um, o poderoso rizicultor estabelecido ilegalmente na reserva, dono do céu e da terra em Roraima, o outro o exportador, o sócio...

– E a prova disto é que o Amarilla tinha um crachá da empresa do japonês!

 – Um dos dois deve ser o tal do A2, que enviou a mensagem pro Celso Pontes, o outro o próprio “Boss”.

– Peraí, Mouzon... – atalhou mais uma vez Felipe depois de reconsiderar. – Se nós dermos o serviço pro jornalista, ele vai entrar de sola na Sweetwaters, aí as letrinhas vão ficar alvoroçadas e as nossas pistas, ó...

– Que porra de letrinhas são essas?

– A1, A2, A3, os membros da hierarquia.

– Mas é exatamente isso que eu quero!

– É?

– Claro, Felipe! Veja bem. Celso Pontes e Wirna Schwarschlegell vão entrar em contato com seus superiores. Com todos estes indícios a nosso favor, dá pra solicitar à justiça de Roraima uma escuta telefônica na casa de Ildebrando Seixas. Aí, meu amigo, nós o pegamos!

– É, Mouzon... Você é mesmo um sujeito supimpa, sabia? 

– Muito obrigado, “Tenente Corrientes”...

– Tenente é o caralho!

– Tome o meu cartão, “Oficial”, para o caso de você ter dificuldades de encontrar o cara...

– Não precisa, “papai”... – replicou Felipe, num misto de jocosidade, orgulho e ironia. – A minha carteira também é quente, “meu”...

– Você está me sacaneando só porque eu sou paulistano?

– Não... – disse Felipe voltando a sorrir. – Sabe de uma coisa, Mouzon? Nós dois formamos uma excelente dupla, não acha?

– Acho. Agora vamos àquele chopinho, por favor. Estou com muita sede, “parce’ro”...