terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A ERA DE OURO DOS FARSANTES - IV

   Uma das minhas maiores dúvidas enquanto autor consiste em descobrir se existe uma fórmula mágica, a pedra filosofal para se fazer sucesso literário...
   Se existe, me parece que as editoras também não a conhecem...
   É inegável que o livro no Brasil se tornou um grande negócio, mas e a literatura, com letra maiúscula, é um bom investimento ou não é? Acredito que muitos editores responderão de boca cheia a esta provocação: "se o autor for bom nós publicamos".
   Evidentemente que isto é uma grande falácia. Primeiro: o que os editores entendem como um bom autor?
   Por exemplo, H. P. Lovecraft pode ser considerado um bom autor? Hoje em dia, sim; os seus contos publicados no Brasil estão esgotados, e as livrarias sebo disputam no tapa um exemplar qualquer para exibí-lo em suas prateleiras repletas de teias de aranhas, porém, na época em que ele vivia, ninguém o publicou.
   E James Joyce, é um bom escritor ou não é? A crítica o chama de gênio; os mestres literários seguem seus passos, e, no entanto, no seu tempo de vida Joyce teve de bancar a publicação de várias de suas histórias.
   É assim que a banda toca...
   Diriam alguns...
   Notas dissonantes, harmonia pífia, diria eu...
   Os exemplos abundam.
   Os argumentos dos editores esbarram em questões estéticas? Não, muito pior do que isso! Apóiam-se nos indices da economia, e todos sabemos que Economia é a grande arte da prestidigitação.
   Na verdade, quaisquer conceitos, ou preconceitos, que se possam coligir em torno da difícil arte de escrever, eles sempre serão subjetivos. Digam o que quiser, mostrem os alfarrábios que desejarem. Àquela balela de que "estamos de olho no mercado editorial", e outras asneiras parecidas não se sustentam com o passar do tempo; não cabem mais.
   Só existe duas maneiras para se julgar um bom autor. A primeira, obviamente, é o termômetro chamado leitor, apesar de que, ultimamente, com a dissimulação velhaca do marcheting, isto também não quer dizer muita coisa.
   Então só nos resta uma prova: a do tempo. Somente o bom autor sobreviverá aos pósteros, ratificando e consolidando definitivamente seu nome na galeria dos eleitos do Parnaso. Infelizmente, nem sempre o escritor sobreviverá para assistir a sua apoteose, que muitas vezes só ocorrerá décadas depois de sua morte.
   Não quero julgar o que está certo ou errado, mas é inegável que nós temos uma tradição terceiromundista em termos editoriais. O que significa isto? Publica-se à socapa o que há de pior e o que há de melhor na língua inglesa...
   No segundo caso tudo bem! Mas enquanto isso, nós aqui do tupi or not tupi, ficamos de fora da "política" das editoras nacionais, principalmente nas grandes casas...
   Isto é outra coisa fora de dúvida! Os autores nacionais não têm vez nas editoras brasileiras, principalmente os novatos... E por que as coisas são assim?
   Perguntem aos editores!
   A grandeza do Brasil desponta em todos os quadrantes deste ínfimo planetinha periférico, menos nas editoras brasileiras...
   Caberá às nossas honradas casas editoriais erguerem seus olhos para esta grandeza desconhecida que fala português. Só assim o leitor brasileiro criará uma consciência crítica do que há de melhor e de pior na nossa literatura...
   Espero que nas décadas que estão por vir esta dúvida intelectual seja pulverizada por uma grande certeza...
   A boa literatura há de sobreviver... Sempre. Enquanto isto, continuem a publicar os seus pasquins.
   O belo, só pode ser visto como tal, porque há o feio...

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