quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IV - CAPÍTULO 4


Enquanto isso, os outros só esperavam uma oportunidade como esta para golpear sem restrições...

Várias tribos estavam em pé de guerra, afinal suas terras estavam sendo invadidas por dois grandes grupos de ávidos capitalistas.

Os grileiros vinham sendo monitorados pelos militares e a Polícia Federal há algum tempo, porém, do outro lado da reserva, uma turma de madeireiros ilegais também preparava uma incursão...

Ninguém sabia da existência daqueles madeireiros...

Quer dizer, ninguém sabia da invasão em tempo real...

Porquanto este grupo de invasores também vinha sendo monitorado constantemente pelas autoridades, embora nada de concreto fosse feito para suster a invasão dupla.

Mas nós sabíamos de tudo o que estava acontecendo na Raposa Serra do Sol...

E não era de hoje!

Estávamos munidos de laptops ajustados a um satélite europeu, que, por sua vez, estava acoplado a um GPS de alta precisão. Podíamos acompanhar a movimentação de todos os grupos envolvidos, de uma forma ou de outra, na disputa pela Raposa...

Fizemos uma série de ligações com toda a imprensa instalada na capital de Roraima, inclusive outras ONGs que, como a Sweetwaters, tinha interesse que a situação fosse resolvida a favor dos povos indígenas, embora alguns daqueles chefes tribais, nós também tínhamos conhecimento disso, tivessem empenhado sua palavra com grandes empresas multinacionais ligadas a diversos setores da indústria pesada...

O drama da Amazônia se configurava como um imenso caos, que só iria beneficiar os grandes capitalistas mundiais...

Isto muita gente também tinha conhecimento...

Mas nada se fazia de concreto.

No meio deste aparato todo, eu me sentia meio que uma formiga a ser esmagada a qualquer momento por pés monumentais...

E isto poderia vir de qualquer lado, por qualquer um que estivesse procurando um bode expiatório para desafogar o seu fracasso...

Claro que esta impotência não se comparava a dos povos indígenas, que certamente não poderiam fazer nada para manter as terras que lhes pertenciam a gerações, nem a população do planeta como um todo, que via o seu “pulmão” sendo destruído lentamente, ainda que esta noção da floresta como o “pulmão do mundo” fosse extremamente controvertida entre os ecologistas...

A complexidade das relações entrelaçadas de interesses escusos se confundia ainda mais quando entravam em jogo os interesses das organizações que pretendiam salvar a Amazônia...

Tornara-se praticamente impossível discernir o certo do errado, e o lado bom do ruim...

Enquanto isso, a contagem regressiva para o fim da Amazônia já começara...

E, sinceramente, eu nem vi como tudo começou...

Contanto fosse previsível este desfecho...

Ânimos exaltados de parte a parte, pois cada lado só queria enxergar aquilo que lhe interessava...

E o direito da massa?!

Essa... Venhamos e convenhamos... Não tem direito algum!

Os madeireiros estavam cheios de jagunços superarmados a seu serviço...

Os índios, coitados, combatiam seus inimigos, o mundo inteiro, com arcos, flechas e bordunas...

  A FUNAI, o IBAMA, a Polícia Federal demoraram muito em conversas parabólicas. Chegaram depois pra contar o número dos corpos...

Curiosamente, até estrangeiros estavam entre as vítimas da “guerra”. Pessoas comuns, profissionais liberais, professores, até operários partidários de Chico Mendes, quedaram entre inumeráveis companheiros nossos...

Tudo gado na conta dos Senhores de Engenho...

Lá onde estavam posicionados os grileiros, a coisa não foi diferente...

Manchetes em todos os principais jornais do planeta: “CARNIFICINA DA AMAZÔNIA!”, estampava um; “GUERRA EM PLENA FLORESTA AMAZÔNICA”, dizia outro...

 E assim vai...

Entre os militares também... Muitos mortos e estropiados...

Alguém, não sei bem quem, chegou a comparar esta catástrofe aos Sertões de Euclides da Cunha...

Isso foi o que testemunhei naquele triste dia na Raposa Serra do Sol.

Estou voltando pro Rio agora, mas, infelizmente, a notícia da tragédia chegou antes de mim...

Não tenho muita novidade pra contar a Wirna...

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