quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IV - CAPÍTULO 5


Aquela sensação de catástrofe iminente, coisa poderosa, indispensável ao instinto de sobrevivência animal, embora, ao mesmo tempo, fosse incômoda para um ser humano também, como a farpa no dedão de um operário, há muito contaminara Felipe Corrientes...

As vozes da floresta, tanto Celha quanto Felipe ousariam proclamar mais tarde, “demoníacas!”, já nem abalavam mais...

Eles seguiam pelo labirinto verde como que possuídos de estranha febre...

E o batalhão atrás...

Como patinhos seguindo sua mamãe pelo abanar do rabo...

Celha, guiada cegamente por sua bússola feminina, obnubilada pelo pânico da morte, não reconhecia as estreitas trilhas escavadas a fórceps...

Agora os comunicadores estavam ligados, mas eles só escutavam os ruídos ameaçadores da conflagração generalizada...

As frequências eram as mais variadas, tanto nas faixas de comunicação normais, quanto nas modulações das expressões de morte e estupefação...

Nenhum sinal de Siboldi e dos demais membros do comando foram captados...

Mas também!...

Naquela confusão de ruídos embaralhados nas ondas do rádio, nada podia ser percebido com nitidez...

A reserva Raposa Serra do Sol era como um mar verde interminável para olhos humanos, e Celha Regina e Felipe Corrientes, como náufragos manchados de sangue...

Não viam sequer os soldados sob seu comando, que nem importavam nas estatísticas dos ovos que foram quebrados para que se fizesse a gemada geral...

Nenhum dos dois soube dizer a posteriori como chegaram sãos e salvos ao 7º PEF...

Celha não falava coisa com coisa, articulando palavras vazias misturadas ao horror do espetáculo sangrento...

Felipe Corrientes, este então, só sabia dizer uma coisa: “não sei, pergunte a Tenente Nascimento”...

Daqueles homens enviados para acompanharem os dois tenentes, só foram identificados depois, a maioria deles na lista dos óbitos.

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