segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 3 - PARTE 2


Felipe não sabia fazer café como a esposa. Ele disse isso a Mouzon, aliás, Flávia também não sabia fazer porra nenhuma! Mouzon perguntou por ela, mas quando viu que Felipe calou-se alguns segundos a mais do que devia, ele desistiu de querer saber a resposta.

Os dois beberam aquele café elétrico ralinho durante alguns intermináveis segundos de silêncio absoluto...

Algum galo cacarejou à distância...

Uma buzina escancarada – por incrível que pareça! – passou aterrorizando as redondezas, mas ninguém podia calá-la, nem mesmo a Lei e a Desordem...

O sol vinha nascendo, iluminando tudinho, e já se podiam visualizar os primeiros contornos das montanhas que se espreitavam da copa do apartamento de bom gosto de Felipe Corrientes.

O Primeiro-Tenente do Exército tentou contar tudo o que estava acontecendo, mas Mouzon interrompeu-o sem cerimônia, tirando-o de uma situação constrangedora:

– A parte que toca a sua vida pessoal, Felipe, não cabe explicação... – disse o experiente Mouzon, com o olhar voltado para baixo, contemplando a xicrinha vazia, melada de açúcar, toda decorada com motivos chineses, mas genuinamente espanhola.

– Mas a minha vida pessoal é justamente o que mais me motiva...

Mouzon sorriu um sorriso terno, sem restrições de caráter moral, mudando de assunto:

– Nós voltamos a Uiramutã depois da chacina... – volveu ele, cuidadoso.

– O que vocês descobriram? – perguntou Felipe, agradecendo-lhe no seu íntimo, mas deixando entrever que ele fazia força para manter certa compostura.

– Os traficantes – ou quem quer que tenha feito o trabalho – usaram mísseis de uso exclusivo das forças armadas da Venezuela...

– Isso te espanta?

Mouzon riu outra vez, melancolicamente, emendando:

– Claro que não...

Outro silêncio...

Mais goles de café ralo...

E Mouzon, sem subterfúgios, querendo animar o companheiro:

– Temos uma missão pela frente...

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