sexta-feira, 11 de maio de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE IX - CAPÍTULO 3


       O que acontece quando todos os seus sentimentos se misturam de tal maneira que se parece com um mingau onde você não consegue mais identificar seus ingredientes básicos...

       Assim a cabeça de Felipe...

       Uma massa desnutritiva escura, esquecida na geladeira, sem função alimentar, mas que ocupa espaço, e fede.

       Felipe pegou sua única mala com o braço bom, o direito, suspirando de desgosto...

       Estava pesada como sua consciência...

       Mas não por culpa de alguma ação irrealizada, e sim devido às coisas mal resolvidas de sua vida...

       Tudo se juntava numa encruzilhada definitiva...

       Daqui em diante, Felipe sabia disso muito bem, não poderia continuar sem respostas, e não se tratava apenas dos mistérios que pairavam a sua volta, mas algo que calava bem fundo no seu coração...

       Não queria continuar com nada daquilo...

       A mentira, onde ela houvesse, queria se livrar dela como de uma doença perigosa, contagiosa, letal...

       Tudo o que cheirasse a esta civilização equivocada deixava-o possesso, profundamente deprimido, desesperançado...

Entretanto, como se livrar de um mal congênito?

Só havia uma saída...

Evitar que ele nascesse.

Só que agora era tarde...

O rebento desta loucura já estava bem grandinho...

Teria de ser suprimido...

Mas Felipe não se julgava o homem certo para proceder a esta operação...

Nem com uma injeção de Espírito Santo...

Ser gauche na vida também não adiantava...

E Felipe não era poeta; não possuía rimas, tampouco soluções.

Felipe pegou sua mala pesada e saiu.

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