quarta-feira, 18 de julho de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE XI - CAPÍTULO 2


      A cama não saíra do seu lugar; nem os tapetes, móveis, cortinas, e o que mais fosse. Aliás, o tempo parecia ter congelado dentro daquelas paredes lacrimejantes. Nem uma brisa sacudia as cortinas lacradas; nem um rangido das estruturas daquela cama bem torneada, caríssima, para constatar que ali ainda havia vida inteligente.

       Tudo escuro.

       Até a respiração supunha uma paralisia completa da carne estagnada, como o monturo do gado locomovente, depois que a comitiva passa através de alamedas de capim rasteiro, este sim propenso às temperaturas mais altas que se tem notícia...

No entanto, o corpo que jazia imóvel naquela cama estática, diante da escuridão muda, ainda refletia...

É verdade que se tratava ainda da mesma ladainha repetitiva e quase psicótica, e que os questionamentos giravam em círculos cada vez mais concêntricos, o que certamente levaria a um afogamento absoluto da psique se nada fosse feito...

Mas o estopim da revolta caberia a uma personagem quase inocente, se não fosse sua insensibilidade absurda...

Muitas vezes, diria seu pai com aquela sabedoria herdada das adegas espanholas espalhadas pelo Rio: “engole-se um elefante e engasga-se com um mosquito”...

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