sexta-feira, 17 de junho de 2011

A SOCIEDADE DO VRIL CONTINUA VIVA E ATUANTE - CONTINUAÇÃO

Não houve jeito de nós impedirmos que Cinthia ficasse sozinha em presença do mal-intencionado Montalban.

Os comandados dele, inclusive, usaram de violência conosco a fim de que não resistíssemos à prisão.  Em minha opinião, naquele momento, nossos destinos estavam irremediavelmente traçados...

No entanto, eu não contava com a astúcia de Cinthia neste episódio, o que foi um erro de minha parte.

Tão logo os dois ficaram a sós, Montalban não perdeu tempo e começou a insinuar-se. Cinthia falava mal o espanhol, embora o compreendesse razoavelmente, no entanto usou isto para articular sua estratégia...

“Lamento. Eu não falo espanhol.”

Para seu azar, entretanto, Moltalban falava um inglês sofrível!

“Quem és, mulher...? Fale a verdade agora ou eu matarei todos os seus cúmplices sem perdão”...

“O Senhor está enganado”, volveu ela humilde, falando num tom de santa mártir. “Eu não conheço nenhum daqueles homens...”

“A senhora está pensando que eu sou algum idiota?!”

“Não, senhor. Minha intenção não é esta. Tudo o que pretendia até este exato momento, era ficar livre daqueles homens. Parece que minhas orações alcançaram a quem de direito...”

“Quem são eles?”

“Eu acho que o senhor estava certo desde o início...”

“Moça, eu vou lhe dizer uma coisa nesta sua língua maldita! Está pra nascer o homem que irá fazer Pablo Montalban de idiota!...

Cinthia percebeu neste momento que o tipo seria, ao contrário do que ele imaginava, muito fácil de ludibriar...

“Eu sempre soube que vocês não passavam de uma corja de espiões vermelhos...”

“Aqui é onde reside o erro, meu senhor. O senhor está certo somente num ponto: eles são espiões de fato, mas não a serviço da União Soviética, e sim em relação ao governo militar do Chile.”

“A senhora tem como provar o que está dizendo?”

“Não, pois eles me tomaram todos os documentos. E os deles, claro, são falsos.”

“E onde estão os seus documentos?”

“Ficaram no Chile.”

“E a senhora...? Onde entra nesta história?”

“É como eu estava falando ao senhor. Estes homens pretendiam vender-me como prostituta na primeira chance que tivessem... Foi Deus que colocou o senhor no meu caminho...”

“E que motivo eles teriam para fazer isso com a senhora?”

Montalban, lógico, não aceitava as coisas com a facilidade que demonstrava, mas apesar do espírito desconfiado, ele parecia mesmo inclinado a acreditar, pelo menos em parte, na história de Cinthia.

“Então eu volto à pergunta do início, senhora... Quem é a senhora, e o que está fazendo na companhia desses espiões?”

“Mas eu acabei de dizer ao senhor...”

“É, disse, mas eu não tô acreditando... Ainda estou esperando que a senhora me diga quem é de verdade...”

“Sou uma cidadã dos Estados Unidos da América...”

“E o que ‘uma cidadã dos Estados Unidos da América’ está fazendo no meio de um monte de espiões chilenos?”

“É simples: eu fui sequestrada!”

“Minha senhora... estou começando a perder a vontade de conhecer a senhora mais de perto...”

E dizendo isso, Montalban foi-se aproximando...

Cinthia contornou a única mesa que existia naquele recinto miserável.

“O senhor não pode fazer isso comigo, pelo amor de Deus Misericordioso!”

Montalban deteve-se meio impaciente.

“O senhor tem de me devolver à embaixada de meu país, ou... ou...”

Cinthia começou a chorar.

“Ou o que, gringa?”

“Ou este incidente poderia nos levar a uma guerra nuclear!”

“A senhora está tentando me enganar, dona. Quer ganhar tempo...”

No entanto, o efeito desejado, ou seja, frear as inclinações sexuais violentas de Moltalban, foi alcançado.  Ele nitidamente detinha-se. Agora faltava terminar a história que iria engambelá-lo.

“Eu posso provar tudo o que estou dizendo...”

“Pode começar... Sou todo ouvidos.”

“Pra começar deixe-me dizê-lo que eu sou esposa de um dos adidos culturais da embaixada dos Estados Unidos em Santiago...”

Montalban demonstrou surpresa, mas aquele descrédito inicial ia cedendo aos poucos.

“Os homens que você prendeu são de fato espiões a serviço do governo chileno, mas eles acreditam que eu estava protegendo um espião húngaro pelo simples motivo de ser amiga de Myrna Urjam. O casal Urjam reside em Santiago há dois anos e meio e o governo chileno suspeita que Lazslo Urjam seja um espião a serviço da União Soviética. Eles me sequestraram a fim de me interrogar, mas quando perceberam a burrada que haviam cometido, resolveram dar um fim a minha pessoa sobpena de arranjar um incidente diplomático com os Estados Unidos. Depois que me vendessem a qualquer um que quisesse me comprar, eles dariam um fim no casal Urjam, ainda que não tivessem nenhuma prova concreta da participação de Lazslo Urjam em espionagem no Chile. Para todos os efeitos isto colocaria os húngaros sobsuspeita, e até que tudo fosse resolvido, anos talvez se passassem caindo tudo em esquecimento.”

Montalben coçava o queixo mal barbeado sem dizer uma palavra. Ele lutava consigo mesmo em relação a toda esta história. Mas Cinthia era muito boa no que fazia, aliás, em ambas as profissões, senão não teria chegado ao estrelato.

“A senhora não me diria se soubesse que o húngaro é mesmo um espião, diria...?”

“O que ambos ganhamos com isso...? Isto não compete nem ao senhor nem a mim. Myrna Lazslo é mesmo uma amiga muito fraterna, e eu estou pouco me lixando se o seu marido é espião ou não. O que o senhor pretende...? Não é proteger as fronteiras de seu país...? Então deve me libertar. Nós não temos nada com esta guerra fria...”

“Acontece que um bando de espiões chilenos invadiu a Argentina sem permissão, e eu teria minha cabeça cortada se isto viesse à baila...”

“Isto pode ser remediado sem nenhum problema para nós dois...”

“O que a senhora sugere para desfazermos esta confusão?”

Cinthia havia vencido! Montalban entregara os pontos.

“Deixe-me falar com a embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires. Os espiões chilenos serão entregues aos americanos, diretamente na embaixada. Nada aconteceu aqui. Não há testemunhas! O destino dos espiões chilenos será resolvido entre o meu país e o Chile. É o caminho mais fácil para todos nós, e o senhor mantém o seu cargo...”

Montalban refletia, enrugava a testa, refletia, e não dizia nada.

De fato, esta era a grande solução de nossos problemas.  

“Sargento Belluzo!” Berrou Moltalban.

O sargento atendeu prontamente.

“Tome conta desta dama, por favor. Preciso fazer uma ligação com urgência...”

Montalban levantou sua bunda gorda da cadeira e saiu, antes, porém advertiu seu comandado:

“Sargento!... Muita educação com esta dama, pois o senhor está lidando com uma cidadã dos Estados Unidos da América...”
Ele deixou o recinto mal cuidado sorrindo debochadamente...

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