Felipe não sabia
fazer café como a esposa. Ele disse isso a Mouzon, aliás, Flávia também não
sabia fazer porra nenhuma! Mouzon perguntou por ela, mas quando viu que Felipe
calou-se alguns segundos a mais do que devia, ele desistiu de querer saber a
resposta.
Os dois beberam
aquele café elétrico ralinho durante alguns intermináveis segundos de silêncio
absoluto...
Algum galo
cacarejou à distância...
Uma buzina
escancarada – por incrível que pareça! – passou aterrorizando as redondezas,
mas ninguém podia calá-la, nem mesmo a Lei e a Desordem...
O sol vinha
nascendo, iluminando tudinho, e já se podiam visualizar os primeiros contornos
das montanhas que se espreitavam da copa do apartamento de bom gosto de Felipe
Corrientes.
O Primeiro-Tenente
do Exército tentou contar tudo o que estava acontecendo, mas Mouzon
interrompeu-o sem cerimônia, tirando-o de uma situação constrangedora:
– A parte que toca
a sua vida pessoal, Felipe, não cabe explicação... – disse o experiente Mouzon,
com o olhar voltado para baixo, contemplando a xicrinha vazia, melada de
açúcar, toda decorada com motivos chineses, mas genuinamente espanhola.
– Mas a minha vida
pessoal é justamente o que mais me motiva...
Mouzon sorriu um
sorriso terno, sem restrições de caráter moral, mudando de assunto:
– Nós voltamos a
Uiramutã depois da chacina... – volveu ele, cuidadoso.
– O que vocês
descobriram? – perguntou Felipe, agradecendo-lhe no seu íntimo, mas deixando
entrever que ele fazia força para manter certa compostura.
– Os traficantes –
ou quem quer que tenha feito o trabalho – usaram mísseis de uso exclusivo das
forças armadas da Venezuela...
– Isso te espanta?
Mouzon riu outra
vez, melancolicamente, emendando:
– Claro que não...
Outro silêncio...
Mais goles de café
ralo...
E Mouzon, sem
subterfúgios, querendo animar o companheiro:
– Temos uma missão
pela frente...
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