Compadecendo-se do
maridão chateadão, ela não se importou mais nem com a toalha nem com sua nudez
maravilhosamente bela, e entregou-se às carícias possíveis naquela que era uma
atmosfera um tanto quanto mórbida. Pouco faltava para que alguém dissesse “meus
pêsames”.
Felipe explodiu
pela primeira vez:
– Me deixa em paz,
Flávia, pelo amor de Deus!
– Eu é que invoco o
nome de Deus, ué!... Você não quer me dizer o que está acontecendo?...
Um “NÃO” mais
audível, que soou severo, encerrou aquela primeira tentativa de comunicação.
Ela foi cuidar da
sua vida, afinal tinha que se arrumar, almoçar, porque iria ao shopping
encontrar algumas amigas...
O tempo passou,
Flávia estava comendo, com um apetite tremendo, quando viu o marido passar por
si como assombração ligeira, indo direto ao banheiro...
Ele ia voltando
para o quarto quando ela o convocou:
– Vem comer, Bem,
porque tá quentinho, gostoso...
Felipe girou sobre
os próprios calcanhares combalidos, e, de facto, dirigiu-se à cozinha, mas
preferiu uma cerveja gelada que encontrara perdida, como ele, no fundo da
geladeira, esta que em geral era reservada somente aos seus convidados, porque
dificilmente Felipe bebia.
– Isto vai lhe
fazer mal, meu amor... – admiração, logo contornada por outra garfada feliz. –
Porque você não come com sua mulherzinha?... – Desta vez a apreensão era
verdadeira: – Felipe, eu sou capaz de jurar que alguma coisa não anda bem,
Amor!...
– Você é até capaz
de perceber alguma coisa de errado em mim, Flávia...
Felipe fora
propositadamente ácido, mas não parou por aí:
– O que se torna
impossível pra você é pensar que existe vida inteligente em outros planetas...
Ela não gostou:
– Pó pará! – retrucou
ela algo indignada, parando de mastigar. – Só porque você acordou de mau humor,
eu é que vou pagar o pato?!
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