Apesar de ver a
porta do quarto fechada, exatamente como a deixara ao sair, ela preferiu ir
direto para um banho quente e relaxante...
Cumpriu todo o
ritual a que já se habituara desde que tomou ciência da beleza de seus
primeiros passos em direção ao espelho...
E a porta de seu
quarto continuava trancada, silenciosa, absolutamente sem vestígios de pegadas.
Tomou banho
tranqüilamente, como uma sereia que espera sua vítima, e quando saiu do
banheiro, enrolada na toalha vermelha sanguínea, foi até a porta e bateu suavemente...
Não obteve resposta
e insistiu com mais força...
Como nenhum “ai” viesse
lá de dentro, ela torceu a maçaneta e entrou rompendo a penumbra eterna...
Felipe continuava
lá, deitado, olhando pro teto, sem reflexos de estrelinhas ou nuvenzinhas mentirosas...
Flávia não se
conformou:
– Mas o que está
acontecendo com você, meu amor?...
Nenhuma resposta
viva.
Ela insistiu:
– Você está doente?
Recebeu um não
lacônico soprado com sofreguidão, então repetiu:
– Hem, meu amor?...
O volume a seguir
pouco se alterou.
E ela insistiu,
cumprindo o que fazia parte do seu papel como esposa:
– Você tem certeza
que está tudo bem, Felipe?
– Se eu tivesse
certeza de alguma coisa na minha vida... – retrucou ele com um humor
melancólico – não estaria neste estado, Flávia.
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