quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O QUE HÁ POR TRÁS DO ESPELHO MÁGICO - CONTINUAÇÃO

As aparições públicas de Cinthia acabaram-se como que por enquanto.


De repente, ela se cansara de Bariloche. Eu poderia estranhar esta atitude dela se isto não houvesse ocorrido antes, mas o verdadeiro motivo eu somente desvendaria depois de ter o diário dela em minhas mãos...

E isto, como muitas coisas que acontecem em nossas vidas, foi um ato ridículo de Mestre Acaso...

Ela, simplesmente, havia cumprido sua missão. Por isso queria ir embora, pois nossa passagem por Bariloche não passara de rotina para ela.

Já estávamos de volta num hotel no Centro de Buenos Aires. No dia seguinte retornaríamos para os Estados Unidos. Eu, para Nova York, ela tomaria sua conexão para Los Angeles.

Cinthia descera ao restaurante do hotel para tomar um capuccino. Dizia-se com dor de cabeça e queria ficar sozinha. Ela tinha dessas coisas, eu costumava respeitar.

Eu fiquei no quarto e tentei assistir um pouco da programação da televisão argentina. Digo que tentei porque, como muitos dos meus colegas, era-me difícil compreender o espanhol falado na argentina, cheio de gírias e inversões idiomáticas, o que me fez adormecer antes do tempo.

Cinthia demorou-se muito naquele dia. Cheguei a pensar que, por motivo de uma daquelas muitas crises que abalam a psique dos grandes astros, ela tivesse me largado na Argentina. Acho que foi um pesadelo, porque acordei no meio da noite sobressaltado, e fui conferir se suas coisas ainda estavam no quarto...

Então me deparei com um livrinho com capa de couro preto em cima de uma espécie de penteadeira que imitava a mesa da coxia dos teatros, cheias de lâmpadas e espelhos translúcidos. Aliás, acho que foi por isso que ela gostara daquele quarto. Para mim, com tantos anos de janela, todos os quartos de hotel eram como folhas de papel em branco de um mesmo caderno.

Uma comichão insuperável fez-me tomar aquele livrinho em minhas mãos, hábito que eu não cultivava...

Sabe quando uma pessoa diz-se descrente da existência de Deus e um belo dia Ele se materializa bem na sua frente e lhe estende a mão...?

– Muito prazer. Deus.

Pois foi justo o que me ocorreu tão logo eu comecei a folhear o diário de Cinthia...

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