segunda-feira, 2 de julho de 2012

O SENHOR DAS ÁGUAS - UNIDADE X - CAPÍTULO 3


Os três oficiais superiores se negaram a olhar para Felipe...

Parecia que os três compreendiam todo o seu drama, contanto desconhecessem todas as implicações emocionais criadas entre Felipe e Celha.

Barreiros passou a se dirigir a Pessanha, como se não houvesse mais ninguém por ali.

– Nós vamos empenhar todo o aparato disponível para caçar esses criminosos... Só vou descansar quando os vir encarcerados... – o silêncio reinou por um longo instante, depois ele falou com uma frieza calculada, talvez para não chorar ele próprio: – O Senhor retornará ao Rio de Janeiro, Tenente Corrientes...

– Por favor, General – disse Felipe, entre um soluço e outro. – Permita-me acompanhar de perto as investigações dessa chacina, Senhor...

– Felipe – disse o general, paternalmente. – Eu tenho um filho da mesma idade que a sua... Ele não quer nada com o Exército, o safado... Eu sei perfeitamente como você está se sentindo, o quanto representava pra você este trabalho, e, acima de tudo, como você gostava dos seus companheiros... Major Pessanha – disse Barreiros, categórico, tentando dar um ar grave que absolutamente não sentia, compungido com a dor de seu oficial. – Eu quero três semanas de licença para o Primeiro-Tenente Corrientes. Emita o pedido já.

– Sim senhor...

E lá foi o Pessanha cumprir uma ordem que se imaginava cristã, mas que, na verdade, não lhe pareceu simpática, como uma ferida profunda, como se o punhal do inimigo se lhe enterrasse até o cabo em seu ventre.

– Tenente Corrientes... – volveu Barreiros tentando parecer duro, mas que soou caricato. – O senhor está dispensado do relatório. Isto é uma ordem.

Felipe não perdeu tempo com uma frase decorada...

Saiu carregando toda a dor do mundo, agora para sempre justificada, qual um Atlas escatológico, mas que agiria com a fúria de um Agamêmnon vingativo...

A vingança, pensou um Felipe enlouquecido pela dor, é a única forma de justiça num mundo torpe, onde os prevaricadores e pusilânimes é que governam.

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