sábado, 18 de dezembro de 2010

O EFEITO TIRIRICA

Nas últimas semanas a mídia vem dando bastante destaque a esta "criatura" brasileira chamada Tiririca.
Alguém se lembra quando este "frankenstein" começou a aparecer no cenário nacional? Pois o Senhor das Águas, sempre atento às minhas postagens, lembra-me aqui que foi na época da Escolinha do Professor Raimundo, quando ia ao ar por volta das cinco da tarde na Rede Globo... Se alguém tem provas em contrário, por favor me corrija!
Esta questão do ilustre deputado federal por São Paulo Tiririca é de um simbolismo atroz...
O fato deste cidadão ter sido eleito por São Paulo é mero acidente. Não tenho dúvida nenhuma que ele teria sido eleito por qualquer região do país, e sabem por quê? Porque o Tiririca é a nossa cara! Aquele seu ar ingênuo, com a visão obtusa das coisas, é a mesma do cidadão comum no Brasil. Um povo iletrado e com perspectivas turvas. Enquanto isso, a elite deste país vai enrolando os milhões de "Tiriricas" que assistem às novelas de televisão e acreditam nos telejornais, porque esta mídia serve a ela há gerações!
Ora! O mais engraçado disso tudo, é que dezenas de pessoas, das mais variadas tendências e formações, brasileiros e brasileiras super inteligentes, com algo a contribuir para este país, só aparecem em programas como o Provocações, do Abujamra, que ninguém vê, porque não tem o mesmo destaque na mídia... Por que, hem?... Que coisa estranha!...
E há tantos autores, como este que vos fala, que lutam para impor-se num mercado editorial "tiririca", mas que não conseguem, e terminam taxados como loucos que pregam no deserto... Por que o Brasil é assim?
Eu proponho aqui uma modificação do arquétipo nacional...
Na época em que Monteiro Lobato vivia, ele cunhou o termo "Jeca Tatu", de boa lembrança aos mais velhos e aos mais letrados, um por cento da população brasileira, se não menos! Pois eu sugiro que troquemos por "Tiririca". É claro que o Mestre Lobato vai se contorcer no Parnaso com esta minha infâmia, vai querer voltar para torcer o pescocinho deste seu discípulo herege, mas eu vou acalmá-lo daqui deste "Paraíso" chamado Brasil, que os bem viajados dizem não trocar por nada deste mundo... Bobagem! Eu trocaria! Numa boa! Ainda mais se tivesse o meu trabalho reconhecido! Na verdade é muito mais do que isso! É uma vida toda dedicada a uma atividade sem ter quase nenhum incentivo, nem mesmo da parte dos familiares, o que é muito triste...
Mas voltando à vaca fria...
Não se incomode, Lobato, diria eu ao Mestre. Assim como o teu Jeca Tatu acabou sendo incorporado à cultura nacional da tua época, chamando a atenção daquela sociedade incipiente para um problema sério, eu digo que o nosso Tiririca poderá ter o mesmo efeito daqui para frente...
Acrescento apenas que a nossa sociedade atual continua quase tão incipiente quanto o era na tua época...
Quem sabe nas próximas eleições gerais, ao invés de elegermos um "Tiririca", nós elegeremos homens como um Monteiro Lobato, com uma visão acurada das coisas, visionário, e sem fisiologismos. O grande problema dos nossos políticos é que o discurso dos crápulas é praticamente idêntico. Da sopa de letrinhas que é os partidos brasileiros, um eleitor "Tiririca" não pode identificar que os programas são todos grandiloquentes, ufanistas e maravilhosos, mas os homens por trás deles são essa erva daninha que diz nos representar...
Pois eu não tenho nenhum representante! Nem na Câmara dos Deputados em Brasília, nem na Assembléia Legislativa ou na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
Mais uma vez eu imploro para que nós, os "tiriricas", acordemos, se quisermos ser verdadeiramente iguais aos frondosos Carvalhos do Norte, ou as imorredouras Sequóias, ou ainda os bojudos Baobás africanos, gordos e prósperos, com generosa sombra.
Para encerrar este ano com chave de ouro, eu me debrucei sobre o Pai dos Burros, curioso... e anotei uma série de acepções interessantes para a palavra "tiririca"...
1. Planta ciperácea, daninha às lavouras e jardins. 2. Agitação das águas com ondas desencontradas. 3. Colérico, furioso, zangado, irritado. 4. Azedo. 5. Batedor de carteira. 6. Gatuno.
Em janeiro estou de volta, com o mesmo espírito lobatiano que marcou profundamente todos os meus blogs. Amém, Monteiro, pois você me ensinou a ser grande, mesmo diante de tanta mediocridade.
Feliz natal, meus parcos leitores, e espero que o ano que vem seja lobatianamente melhor. Valeu...

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