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Felipe não...
Ele estivera em
atividade o tempo todo na ausência de sua grande amiga Celha Regina...
Porém as
preocupações de Felipe Corrientes eram de outra natureza...
Celha não ocupava
seus pensamentos com tanta intensidade...
Quer dizer, não era
bem assim, pelo menos não tão exato matematicamente falando, mas o fato é que a
mente de Felipe trabalhava também em outras dimensões do presente...
Os Macuxis, afinal
de contas, balançavam toda a estrutura de uma nação. Mal governada, é verdade,
mal administrada, mal educada, culturalmente mal desenvolvida, mal explorada...
Enfim...
Um amontoado sem
forma, o que talvez não fosse de todo ruim, porquanto todas as demais grandes
nações do planeta estivessem numa decadência inexorável, enquanto que o Brasil
ainda tinha muito a ganhar com o tempo...
Era isto.
Mas Felipe não
tecia a rede em ínfimos fios, até por uma questão de clareza, haja vista que o
seu temperamento era o ideal para uma guinada de 360°, no entanto...
Bem. Ele tinha uma
missão a cumprir e se agarrava a isto de forma atroz. Jamais abandonaria o
barco, acontecesse o que acontecesse...
E foi numa dessas
idas e vindas tão pouco descontraídas que ele escutou aquilo que não deveria...
A porta do
dormitório estava aberta. Era bastante tarde para a rígida disciplina militar, mas
ele estava ali para contrariar padrões estabelecidos...
As vozes
pareciam-se às de Siboldi e Gusmão; ele não tinha muita certeza, embora o
silêncio reinante não lhe permitisse margem a erros...
Ele deteve-se
instintivamente estático no corredor, às escondidas do mundo, ninguém por ali,
tudo silencioso, então ouviu Siboldi dizer:
– Eu disse que você
não devia passar essas informações ao A6. Nós somos meros operários nesta
missão. Nem classificação em código nós temos, pra você ver...
Tudo levava a crer
que o capitão Ernesto Siboldi passava uma sarabanda no sargento Gusmão, mas o
motivo...
Felipe nem
imaginava, embora a surpresa fosse enorme...
– Ele vai nos
fritar se souber – voltava a advertir Siboldi.
E agora? O que
fazer?
Antes que Felipe
tomasse qualquer resolução, foi surpreendido por uma presença...
– Corrientes! –
berrou Mascarenhas, tão surpreso quanto seu colega. Os dois se encararam com
sentimentos bem distintos, porque o terror ameaçou tomar conta de todo o ser de
Felipe, ao passo que a surpresa fora tão gigantesca que chegara quase a
paralisar a respiração de Mascarenhas.
– Que que você está
fazendo aqui?!
Felipe cacarejou,
ou melhor, gargarejou, melhor ainda, gaguejou, mas acabou se saindo bem
demais...
– Eu?!... Nada,
ué!...
– Escutando atrás
das portas, mano!!
– Eu?! – repetiu
Felipe, robótico, bobônico. – Não!...
– Então o que você
está fazendo por aqui à uma hora dessas? – Mascarenhas insistia com autoridade,
embora seu posto fosse exatamente igual ao dele.
– Eu ia ao
banheiro...
– Ia?
– Não, vou...
– Então vai de uma
vez, porra!
Trêmulo,
exasperadamente acuado, um medo pânico varrendo-lhe o espírito, ele saiu sem
pensar.
Mascarenhas olhou-o
numa estranha disposição apática, próxima àquela da morte certa, entrando no
dormitório em seguida.
Quando Celha voltou,
dois dias depois, a primeira oportunidade que teve Felipe falou-lhe a respeito da
conversa ouvida nos bastidores em tom de desabafo.
Ele estava lívido,
sem cor, como uma fruta madura recém- chupada pelo caruncho amoral, porém, Celha,
percebendo seu estado deplorável, tratou de acalmar-lhe os ânimos.
– Isso pode
significar tantas coisas, Felipe, que eu, se fosse você, nem perderia tempo em
decifrar o conteúdo...
– Não, com certeza.
Mas porque o tal de A6 ia querer foder os caras? E o significa A6?
– Volto a dizer:
isso pode significar uma porrada de coisas, amigo...
– Mas também pode
ter relação com aquilo que nós estamos investigando...
– Pode – retrucou
Celha que não tinha nada de mais importante a dizer, o que poderia significar “é”,
“tanto faz”, “sei lá” ou qualquer coisa.
– Mas que é
esquisito, é – insistiu Felipe, como numa febre solene, obsessiva, carrapativa,
etc. – Isso vai de encontro àquela sensação de catástrofe iminente que eu venho
sentindo...
– Não vamos nos
precipitar – volveu Celha a título de nada, fria como uma pedra de gelo. – A
pior coisa que pode acontecer nessas situações é pegar uma conversa pela
metade... ou pelo fim. Podem-se tirar mil e uma conclusões, e todas elas
erradas.
Não se aprofundaram
mais neste assunto...
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