segunda-feira, 8 de agosto de 2011

QUEM É QUE VAI PAGAR POR ISTO?

  Há cinco séculos houve um lugar cujos descobridores denominavam Terra de Santa Cruz. Neste lugar, os primeiros homens "civilizados" a por os pés nestas terras de antanho, acreditavam ter descoberto algo mais ou menos similar ao que eles acreditavam ser o Éden bíblico.
  Os construtores de pirâmides desta época tiveram de apelar para o trabalho escravo, haja vista que os nativos encontrados nestas terras recusavam-se a colaborar com aqueles homens estranhos, de cara pálida e pelos no rosto, que se julgavam donos de um quinhão de terra que absolutamente não lhes pertencia, e, ainda por cima, queriam escravizar os verdadeiros donos, ou, por outro lado, pelo menos àqueles que haviam chegado primeiro que eles...
  Isto tudo tem um significado muito profundo para todos nós, talvez as pessoas nunca tenham refletido sobre esta gênese, porque tudo começou errado desde o primeiro momento.
  Bem, o tempo passou nestas terras de Santa Cruz, e os construtores de pirâmides misturaram-se tanto com aqueles nativos rebeldes, não tão completamente exterminados, quanto os escravos trazidos de outras praias justamente para a construção de pirâmides.
  Nesta Terra de Santa Cruz outras raças forjaram-se a partir daí; culturas distintas fundiram-se num tempo e num espaço determinado, mas aqueles escravos nascidos de duas raças destroçadas pelo invasor deixaram muitos descendentes, e, apesar de terem sido libertados no papel, jamais o foram de fato...
  Nós somos os descendentes destes povos perdidos, e ainda hesitamos diante de tanta injustiça e das dívidas sociais contraídas junto à história...
  Chegou a hora de nos perguntarmos: quem é que vai pagar esta conta? Resposta facílima! Cada um de nós, segundo o seu entendimento, paga sem o perceber.
  O que aconteceu é que com o passar dos séculos, a sociedade resultante desta Terra de Santa Cruz, cruzou os braços e nunca admitiu sua parcela de culpa nesta dívida. Os problemas foram-se acumulando; a população crescendo, e a dívida idem.
  Tantos governos: monarquistas, federalistas, positivistas, ditatoriais, republicanos de todas as tendências, e nada! A dívida social crescendo, e os descendentes daqueles escravos alforriados pagando a conta...
  Uma dívida que não tem tamanho, mas tem uma dimensão: a da violência generalizada.
  O Estado brasileiro, seja em que esfera for, a municipal, estadual ou federal, não cumpre seus compromissos, nunca cumpriu, aliás! O cidadão brasileiro, por outro lado, mas inconscientemente, não reconhece a autoridade deste estado capenga, que perpetua-se no papel de não enxergar o seu patrão, o povo. Disto resulta uma desobediência civil quase generalizada, cujo Estado, prevaricador histórico, finge não assistir a esta rebeldia quase calada, ou seja, o produto final desta relação doentia é um Estado esquizofrênico cuja doença tem cura, porém o tratamento, após tantos séculos de enganação, sem tomarmos nosso remédio caseiro, será um tanto amargo, senão intragável.
  Não vamos solucionar problemas sociais históricos com políticas de gabinete que visam a interesses comerciais duvidosos, cujo resultado final, mais uma vez, colocará a problemática social de lado, enchendo os cofres particulares, mas esvaziando a sacola paupérrima da dívida pública para com os exilados da Terra de Santa Cruz.
  Repito a pergunta que ficou sem resposta: quem é que vai pagar esta conta? Cada um faça a sua parte. Eu farei a minha...    

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