sexta-feira, 8 de julho de 2011

A SOCIEDADE DO VRIL CONTINUA VIVA E ATUANTE - CONTINUAÇÃO

A Patagônia ficara para trás. A embaixada americana em Buenos Aires concordou imediatamente em receber-nos, sem nenhuma condição, mas a questão dos espiões trazia certas complicações diplomáticas com as quais o governo dos Estados Unidos até estava disposto a enfrentar para tê-los em suas mãos. Entretanto, os dois agentes duplos não concordavam com esta troca. Eles não queriam servir nem a Gog nem a Magog; o que eles almejavam de fato era receber abrigo em algum país estrangeiro não alinhado, receber passaportes e documentos falsos, e viverem felizes para o resto da vida longe das agruras da guerra fria, porém o destino dispôs de outra forma.

Em relação aos demais agentes chilenos também havia problemas. Somente Garcia concordara com o plano de Cinthia. Na verdade, desde que ela salvara a sua vida na Alemanha Ocidental, ele parecia disposto a entregar o seu destino nas mãos daquele anjo de Hollywood. Pena que o destino dela parcialmente repousava em minhas mãos. Também no caso de Garcia e dos demais companheiros de Chile, o destino conspirava tremendamente...

Depois de muita discussão e negociação estávamos na Argentina. Um carro com a placa da embaixada americana veio nos buscar no aeroporto de Buenos Aires, mas nenhum de nós chegaria ao destino traçado desde Los Lagos...

No meio do caminho fomos interceptados por um carro com placa argentina, mas seus ocupantes, definitivamente, não falavam espanhol. A única coisa que me lembro daqueles momentos de pânico, é que fomos sequestrados sem muito alarde, numa operação relâmpago de raro profissionalismo, se é que posso me expressar desta maneira.

Cinthia e eu fomos sedados e separados do grupo. Fomos acordados algumas horas depois para somente aí descobrir que todos os agentes chilenos haviam sido sumariamente eliminados. Ainda não tínhamos noção do local aonde fomos levados. Nossos sequestradores não estavam interessados em perder tempo, além disso, não só eliminavam o excesso de testemunhas, como também economizavam o material necessário para a manutenção de todas aquelas pessoas clandestinamente.

Em separado fomos recebidos pelo chefe do grupo que nos sequestrara. Um homem alto, louro, bem apessoado e sem nenhum traço que o pudesse identificar, exceto que falava um bom inglês mas com sotaque. Não havia dúvida para mim que aquele homem bem na minha frente tinha uma ascendência alemã...

Com muita calma e segurança ele queria descobrir o motivo pelo qual eu, um embaixador dotado nas Nações Unidas, estaria ali em companhia de uma notória espiã norte-americana.

Respondi-lhe no ato, com a mesma cortesia com que ele me brindara, que não concordava com o resultado daquela ação arbitrária sob-hipótese alguma, e que a ONU, caso soubesse do meu sequestro, protestaria perante sua assembleia permanente.

Ele não ligou a menor importância às minhas palavras. Eu tinha certeza absoluta que aquele homem na minha frente pertencia ao extinto III Reich, ou ao emergente IV Reich, mas eu precisava continuar o jogo, porque ele talvez não desconfiasse do meu nível de entendimento em relação a este assunto, o que logo a seguir desvelou-se...

Ele, claro, não esclareceu a nenhuma das minhas dúvidas, limitando-se a sorrir quase descontraidamente, embora eu tenha notado o tom ameaçador de suas palavras.

 “Vocês, americanos, pensam que são os donos do mundo, mas o destino ainda lhes reserva uma grande lição...”

Eu questionei esta última assertiva; ele limitou-se a completar o seu raciocínio.

“Vocês não imaginam quem somos nós. O seu governo sabe, mas por uma questão de conveniência política, eu diria que por um simples lance tático de hegemonia temporária, jamais admitiria a existência de nosso grupo perante a opinião pública mundial...”

“Qual grupo, Herr...?”

“Para um simples diplomata o senhor é um bocado esperto, Senhor... Aliás, qual é mesmo o seu nome verdadeiro?”

“Estamos empatados, Herr Fritz... O Senhor quer saber quem eu sou, e eu gostaria imenso de descobrir que grupo é este ao qual o senhor se referiu e, afinal de contas, onde nos encontramos...”

“Esta sua última dúvida é fácil de esclarecer. Nós nos encontramos na Argentina... Ainda. Agora estamos verdadeiramente empatados, porém eu tenho um pênalti a meu favor... O destino final do senhor... Dependerá somente da minha boa vontade, e, claro, da benevolência e colaboração de vocês... A missão de Miss Hollywood nós conhecíamos há muito tempo, desde sua estada em Bariloche...”

“Sinto informá-lo que o Senhor acaba de desperdiçar o seu pênalti...”

“O senhor está enganado, Senhor Embaixador...”

Ele revelou-me a minha verdadeira identidade, mostrando o meu passaporte. Agora, como ele havia conseguido isto eu não sei, porque nós os havíamos deixado em Valparaíso, quando saímos às pressas da cidade fugindo dos esbirros nazistas.

 “Na verdade eu sou o árbitro desta partida”, continuou ele, sarcástico, “e cabe a eu determinar as regras a serem seguidas. No seu caso só há uma: o senhor terá de revelar qual o seu papel nesta missão que Miss Hollywood tentou levar a cabo. Ela foi até onde poderia chegar, identificou-nos, mas, infelizmente, não poderá concluí-la, embora eu tenha ordens expressas superiores para levá-la até a nossa central de energia, se assim posso me exprimir...”

“Infelizmente, Herr Fritz, pelo meu lado, eu não posso ajudá-lo. Eu sou aquilo que o meu passaporte diz, um simples diplomata da ONU. Nada mais. Eu vim até a América do Sul para tentar socorrer Cinthia, a mulher qu’eu amo. Não há mais nada qu’eu possa contar ao senhor de significativo.”

“Só falta o senhor me dizer que desconhecia a verdadeira profissão de Miss Hollywood...”

“Na verdade, Herr Fritz, até Bariloche eu desconhecia sim, mas um acaso gigante fez com que eu descobrisse tudo. Como minha cumplicidade com ela extrapola esta questão menor, nada mudou entre nós desde então, a não ser o peso da minha responsabilidade...”

“Então o senhor confessa que está ajudando Miss Hollywood em sua missão?”

“Negativo. Eu confesso apenas o quanto esta mulher representa para mim. O que o senhor faria se estivesse no meu lugar...?”

“Exatamente o que o senhor está fazendo...”

“Portanto...”

“Mentindo descaradamente!”

“Não posso revelar aquilo que não sei, Herr Fritz. Nem tudo Cinthia compartilha comigo.”

“Mas o senhor sabia que ela estava na nossa pista?”

“Claro! Pois se ela pediu-me socorro do Chile!”

“Então o senhor sabe que eu não poderei fazer nada por ela, não sabe...?

Não podia dizer a ele que sabia exatamente a quem ele se referia, o Chefe supremo do IV Reich, Bormann. Mas se eu dissesse isto seria carne queimada certamente.

“O senhor viajou ao Chile sem dificuldades?”

“Não se esqueça que possuo um passaporte da ONU, Herr Fritz.”

“Apenas conferindo algumas contradições de sua parte...”

“Não há contradição na verdade...”

“O senhor mente!... O senhor é igualmente um espião a serviço dos Estados Unidos da América! Isto está claro para mim! Só me resta descobrir qual é a sua missão! Sua companheira eu já conheço, e, como já disse, seu destino está além do meu poder, mas nós dois ainda podemos acertar os nossos ponteiros. Tudo o que o senhor tem a fazer é me contar a verdade, até porque se eu não a descobrir, o passo adiante será bem mais dramático...”

“Reafirmo tudo o que já disse... Não há nenhum mistério em minha presença na América do Sul. Não há nenhuma novidade mirabolante para eu revelar-lhe.”

“Pois muito bem, “Senhor Embaixador”. Lavo minhas mãos...”

E com estas palavras, Herr Fritz, ou Hans, ou Klaus, deixou a minha doce presença...

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