quarta-feira, 13 de julho de 2011

A ERA DE OURO DOS FARSANTES - I

Os movimentos artísticos do início do século vinte, tais como o Dadaísmo e o Surrealismo, para citar somente dois dos mais polêmicos, supunham, mais do que uma vanguarda estética, um rompimento político com aquela sociedade que se impunha naquela fase de profundo inconformismo e inquietação antes de duas Grandes Guerras que quase destruíram o mundo.

O que as duas Grandes Guerras não conseguiram, estes movimentos artísticos fizeram, ou seja, mudaram toda uma forma de ver, sentir e abordar a pretensa “modernidade”, que já fedia há cem anos.

Hoje, no amanhecer de um novo século, em que um pálido reflexo daquela época chega aos nossos olhos sôfregos de tanta alienação e burrice, em que pese o copioso argumento da infestação da informação e cultura, argumento falho, disseminado pela mídia, mas que não condiz com a realidade prática de uma sociedade de consumo, cujos integrantes, descartados como prestobarba, arrotam hambúrguer respirando o Co2 dos veículos de uma indústria automobilística que está minando nossa atmosfera gradativamente, e, o que é pior, esses homens e mulheres de hoje, que possuem filhos e netos, e que trabalham sustentando esta indústria devoradora, onde irão morar amanhã? 

Somos todos filhos de uma ignorância atávica, que, se não pode nos destruir totalmente, pode fazer um estrago tremendo na face do mundo.


Quem somos nós, então, hoje? No que nos tornamos, para achincalharmos aquelas obras de arte maravilhosas, cheias de uma rebeldia que nos parece algo irresponsável sob o ponto de vista atual, reducionista, até pueril, entretanto, esta rebeldia, baseada numa observação atenta, de reflexão e sensibilidade, triunfou, apesar do obscurantismo que sempre tenta dilacerar aqueles que ousam questionar seu jogo perverso, e o que fizemos com este legado, transformando-o na mais miseranda manifestação de arte de todos os tempos, em todas as suas manifestações, excetuando, talvez, os quadrinhos, que se beneficiaram dos melhores meios de produção técnica?

Porque o cinema não acompanhou este crescimento? Haja vista que à melhoria técnica, desenvolveu-se também um aperfeiçoamento na produção e distribuição, que tornou muito mais fácil o desenvolvimento e disseminação do produto final, o filme.

As grandes ideias cinematográficas, entretanto, do ponto de vista estético, e principalmente político, ficaram dia a dia mais “aguadas”, mesmo nas mãos de grandes mestres como Woody Allen, Francis Ford Coppolla, Martin Scorcese, entre tantos outros, os franceses de uma maneira geral, os italianos, alemães, etc...

Acredito que o Glauber Rocha, se ainda vivo, estaria profundamente desapontado com o cinema que se faz hoje...


O que está acontecendo aos mestres da literatura, da música, das artes plásticas em geral, que se conformaram com a inutilidade suicida desta sociedade sem valores éticos, que nos devora neurônio a neurônio...?

Será que o vigor criativo dos gênios contemporâneos ainda vivos, que nos bafejou na juventude como uma tormenta incontrolável, numa produção estética grandiosa, e ainda enquanto eram um desafio prestes a mostrar os dentes, está morrendo em virtude da acomodação monetária e da cadeira de balanço da fama?


O fato lamentável é que indubitavelmente já não se fazem mais rebeldes como antigamente, e este antigamente de que eu falo só recua umas três ou quatro décadas, porque, se nós voltarmos mais ainda na linha do tempo, veremos que essa rebeldia santificada dos grandes artistas em questão era profusamente maior, como maior eram as obras de impacto, e maior era o número dos gênios em atuação.

A resposta sobre o diagnóstico desta crise “econômica” eu deixo pra vocês...



É indubitável que a crise de valores que norteia a estética de hoje devasta toda a produção artística do mal nascituro e já combalido século XXI. Lembremos que foi assim também ao embarcarmos no século vinte... Os professores de história deverão concordar comigo... Eça de Queirós, em seus artigos na imprensa, ainda em meados do século XIX, deixava entrever a nuvem negra que se arrastava em direção ao início do século seguinte. Não estou insinuando que uma nova guerra, de dimensões apocalípticas, está para estourar em algum lugar do globo, ainda que isto seja plenamente possível, mas sem dúvida nenhuma esta guerra já começou no interior dos corações humanos que frequentam as ruas do século vinte e um...


Do cinema nós meio que já insinuamos a parada quase total dos grandes gênios da sétima arte. Basta olharmos para a cerimônia do Oscar para verificarmos que realmente já não se fazem mais cérebros como antigamente... 

E quanto às artes plásticas...? Será que alguém aí pode me dizer quais são os valores que habitam nas cabeças pensantes desses artistas de agora, se é que cabeças eles possuem...? Quando você entra numa exposição de arte contemporânea e vê, por exemplo, as tais “instalações”, os tristes amontoados de quinquilharias e objetos prosaicos, que os dementes chamam de arte, é que se tem uma ideia do panorama real nas artes plásticas atuais... Dependendo do museu, vale mais a contemplação da arquitetura dele...


Por isso tudo eu ouso afirmar que nós estamos vivendo na Era de Ouro dos Farsantes, o que nos afeta de uma maneira geral, eis a pior das tragédias, e que os nossos “rebeldes” maravilhosos e suas obras transformadoras de há cem anos previram com pessimismo...

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