Após o incidente que ficou conhecido pelo título: “O Que Há Por Trás do Espelho Mágico”... (é o nosso narrador misterioso quem nos conta, notem bem!) cerca de dois anos decorreram. Neste período vi Cinthia poucas vezes. Na maioria delas não falamos em trabalho, o verdadeiro trabalho, aquele que ela exercia por trás das câmeras, nos bastidores da política mundial, conspirando contra e a favor de interesses variados, multidisciplinares, escusos, etc.
Enquanto isso, naquela sua vida “normal”, de estrela de Hollywood, sei que ela esteve envolvida com pelo menos uma montagem teatral, e um filme de grande sucesso na mídia internacional, isto somente para manter as aparências. Sua fama de estrela infeliz nos casamentos continuava, e assim tinha de ser, pois este era um dos inúmeros disfarces que ela criara para si mesma, embora gozássemos bons momentos a dois nas poucas vezes em que nos víamos, haja vista não houvesse mais segredos entre nós, isto é, aquele tipo de segredo que abalara minha confiança no mundo dos homens, conforme vocês testemunharam nos incidentes em Bariloche.
Lembro-me bem que, em uma oportunidade apenas, dessas poucas em que nos vimos neste intermezzo, Cinthia mencionou um homem que havia se tornado o braço direito do Führer em seu exílio na Argentina – Bormann. Este homem, um dos muitos nazistas que se esconderam na América do Sul depois da guerra, e um dos principais colaboradores de Hitler durante ela, viria a ser o homem mais importante do IV º Reich depois da morte de Adolf Hitler, o que aconteceu em 1959. Obviamente, apenas os sobreviventes do III º Reich souberam da morte de seu líder máximo, bem como alguns homens na Inglaterra, Estados Unidos, Suiça, Suécia e onde mais este segredo fosse compartilhado. Entre esses poucos privilegiados, alguns homens e mulheres, Cinthia era uma delas...
Pois ela teria de voltar ao Chile meses depois daquele caso de Bariloche. Foi num dia de abril de 1979, isto eu jamais me esquecerei enquanto tiver forças para me recordar, quando recebi seu telefonema em meu gabinete nas Nações Unidas...
Cinthia estava muito nervosa, não consegui compreende-la por quase cinco minutos, quando pude entender a primeira palavra, soletrada quase num sussurro: “Chile”.
Eu tentei acalmá-la com toda a psicologia que pude reunir naquele instante. Ainda bem que as coisas estavam muito calmas para mim naquele momento, o que viria a se modificar logo depois...
“O que foi, Cinthia...?” – disse com uma calma angelical. “Onde você está exatamente...? Fale devagar, meu amor. O que está acontecendo aí no Chile...?”
Ela me respondeu ainda por sussurros:
“Estou em Valparaíso! Venha para cá o mais rápido que você puder, ou então talvez não me encontre mais viva...”
“Acalme-se, Cinthia, por favor... - neste momento, aquela tranquilidade beatífica descrita a pouco se desvanecia. "O que está acontecendo, pelo amor de Deus!...”
“Os homens de Bormann... Estão atrás de mim!...”
“O quê?!... Bormann?!... Você foi atrás do Bormann...?!
“Não posso te explicar agora, Carlos*! Os telefones não são confiáveis! Venha logo, se você tem amor por mim!...
“Mas, meu amor, eu não posso largar tudo agora e viajar pro Chile...”
Minha angústia chegara ao ápice de um momento para outro...
*A propósito. Este nome, Carlos, será daqui por diante o nome código através do qual eu usarei quando Cinthia estiver se dirigindo a mim.
“Se você não vier agora, Carlos, sinto dizer que talvez nunca mais nos encontremos. Este número qu’eu estou falando com você é o 5234337...”
Tentei estender aquele diálogo sem sentido por mais algum tempo; precisava de mais dados para me situar, porém tudo foi em vão... A ligação foi cortada imediatamente após a última frase de Cinthia, dispersa por uma linha internacional qualquer, e mutilada bem no fim, diga-se de passagem...
Durante alguns segundos eu fiquei como que num estado de total amnésia... Acho que esqueci-me mesmo até quem eu era... Depois, com o passar do tempo, fui-me recuperando aos poucos...
O que eu tinha de concreto? Um nome, o alvo da missão: Bormann, e Valparaíso, uma instância turística chilena às margens do Pacífico. Ah, sim! E um número de telefone incompleto, cujas combinações eram quase infinitas! O que mais...? Mais nada!
Entretanto, o mais importante de tudo, o objetivo daquela missão de Cinthia no Chile, eu desconhecia inteiramente. E como descobrir a respeito de um caso de espionagem internacional, ligado ao governo dos Estados Unidos, sendo eu um simples diplomata da ONU?
Bom, diante deste “puzzle” estratosférico, cujas peças voejavam ao meu redor, eu só podia fazer uma coisa de prático...
Pegar o próximo avião para a América do Sul...
Na próxima semana, pessoal!
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