sexta-feira, 10 de junho de 2011

A SOCIEDADE DO VRIL CONTINUA VIVA E ATUANTE - CONTINUAÇÃO

Chegamos à região de Los Lagos, ainda no Chile, onde pensávamos passar despercebidos até cruzar a fronteira com a Argentina, e, de fato, conseguimos atravessar aquela linda região sem sombras nos nossos calcanhares, porém, já em território patagônico, fomos interceptados por uma patrulha argentina de fronteira, que desconfiou imediatamente da nossa verdadeira missão.

Uma vez alegando que nós havíamos entrado clandestinamente na Argentina, o que era verdade, os guardas nos levaram sem perda de tempo para o posto de fronteira. Ainda pairava grande desconfiança entre os membros daquele grupo de espiões, principalmente entre os dois agentes duplos, mas logo isto não faria a menor diferença...

Eu congelei de medo no ato da prisão, pois, ao contrário de Cinthia, não estava familiarizado com esses incidentes periclitantes. Ela, apesar de ser a única mulher a bordo, o que poderia representar um risco a mais, parecia estar ensaiando para mais um de seus papéis no cinema ou teatro. Ela era conhecida como a “geladeira de Beverly Hills”. Nunca entrava em pânico às vésperas de uma estreia, por exemplo... Não era por acaso.

Uma vez detidos, começaria para nós um pesadelo do tipo descrito nos filmes do gênero...

Garcia tentou tomar a palavra, explicar, ou melhor, mentir sobre a razão de estarmos entrando na argentina, mas a uma ordem categórica do comandante do posto, mandando-o calar-se, ele interrompeu seu discurso logo no início.  Logo depois de mandar nos prender, o comandante retirou-se temporariamente não sei a que pretexto. Ficamos cerca de um quarto de hora sem vê-lo.

Nenhum dos guardas argentinos, incluindo seu comandante, reconheceu Cinthia. Sinal de que seu disfarce era perfeito.  Todavia, o próprio comandante – Montalban era seu nome – havia se interessado pelo fato de ela ser a única mulher no grupo, e começou a fazer perguntas capciosas a fim de descobrir o verdadeiro motivo de nossa presença na Argentina. Não demorou muito, porém, e Montalban perdeu toda e qualquer paciência, passando a pintar com cores fortes todos os tipos de torturas que nos esperavam se nós não disséssemos toda a verdade...

Moltalban deixou-nos uma segunda vez. Trinta minutos depois ele voltou à carga, insistindo para que nós disséssemos a verdade sobre o motivo de termos atravessado a fronteira ilegalmente.  Na verdade, porém, o que ele queria de fato era desfrutar de algumas horas sozinho com Cinthia. Ele suspeitava que nós fôssemos espiões, só não tinha certeza a serviço de que país. Tínhamos que elaborar uma história o mais urgente possível, ou nossas vidas não valeriam um cent nas mãos daqueles guardas de fronteira, e com certeza nós desapareceríamos sem deixar vestígios, ainda mais numa localidade onde a presença civilizada era mínima.

Garcia tomou a palavra novamente, com a permissão de Montalban. O espião chileno era bastante experiente nessas horas e nós só teríamos que corroborar a história dele. Contudo havia um enorme problema: não tivemos tempo para combinar nada, visto que os guardas não nos deixaram sozinhos nem um minuto, ou seja, não seria muito difícil para Montalban desmascarar-nos...

Garcia alegou que nós tentávamos encontrar um grupo de turistas chilenos perdidos naquela região, e o motivo de penetrarmos sem vistos de qualquer espécie era porque, muito provavelmente, esses turistas haviam sofrido algum acidente imprevisto, e, sem nenhuma comunicação da parte deles, talvez eles estivessem correndo perigo de vida. Uma intervenção rápida talvez fosse a garantia de sobrevivência daquele grupo.

Moltalban não acreditou numa palavra sequer daquela história. Disse que, assim como nós, ninguém passaria por aquela região impunemente, sem que eles soubessem, e nenhum cidadão chileno, ou de qualquer outro lugar, havia passado por aquelas fronteiras. Montalban acabava de encurralar-nos, mas Garcia não perdeu a pose:

“Não faz muito tempo”, disse ele, “nós os vimos cerca de dois quilômetros um pouco mais ao norte. Vinham em dois Jeeps importados. Depois perdemos sua pista. Não posso afirmar que se trata do mesmo grupo, por isso viemos em seu encalço. Esses nossos amigos realmente desapareceram nesta região”

Montalban dirigiu-se a um de seus subordinados. Perguntou se algum carro com as características descritas por Garcia circulara por aquela região sem que ele soubesse. Como tudo era uma grande invenção, o guarda não teve dificuldade em negar tudo...

“Nenhum carro chileno atravessou nossa fronteira, Señor”... Disse Montalban ameaçador. “E sabe por quê?... O senhor está mentindo... Vocês são espiões!...” E a paciência de Montalban se acabara: “Não tenho como saber o que vocês vieram fazer na Argentina, mas vocês me dirão... De uma maneira ou de outra eu vou descobrir tudo! Levem esses espiões daqui! Amanhã teremos um pelotão de fuzilamento se a verdade não aparecer!”...

“Qual a acusação?” Berrou Cinthia num espanhol sofrível, tentando ganhar mais tempo.

“Ora, belezinha”... Respondeu Montalban, asquerosamente irônico, cúpido. “Espionagem, o que mais?...

Quando os guardas acercaram-se para nos tanger ao cubículo que Moltalban chamava de cela, ele fez um gesto em direção a Cinthia.
              “Deixe a moça comigo”, volveu o comandante da guarnição de fronteira, taxativo, com um sorriso que não escondia suas intenções. “Talvez ela saiba a verdadeira história...”

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